FIlme do Dia: A Última Esperança da Terra (1971), Boris Sagal


Resultado de imagem

A Última Esperança da Terra (The Omega Man, EUA, 1971). Direção: Boris Sagal. Rot. Adaptado: John William Corrington & Joyce Hooper Corrington, baseado no romance I am a Legend, de Richard Matheson. Fotografia: Russell Metty. Música: Ron Grainer. Montagem: William H. Ziegler. Dir. de arte: Walter M. Simonds. Cenografia: William L. Kuehl. Com: Charlton Heston, Anthony Zerbe, Rosalind Cash, Paul Koslo, Eric Laneuville, Lincoln Kilpatrick, Jiri Giraldi, Brian Tochi.
Em uma Los Angeles devastada e deserta após um conflito mundial sem precedentes, Robert Neville (Heston) se acredita o único ser humano que restou, ameaçado por um grupo de zumbis liderados por Matthias (Zerbe), que se auto-denomina A Família. Neville encontra uma garota negra, Lisa (Cash), que o leva a conhecer outro grupo de sobreviventes humanos, liderados por Dutch (Koslo).  Neville é cientista e conseguiu criar um soro que rebate os efeitos das mutações que transformam homens em zumbis aplicando-o com sucesso ao irmão de Lisa, Richie (Laneauville). Ao se recuperar, Richie tenta convencer Matthias a se submeter ao novo achado. Matthias não apenas recusa como mata Richie. Lisa também se transforma em uma zumbi e leva Matthias ao apartamento de Neville com membros da família. Neville consegue escapar, mas não muito longe. Ele é morto por uma lança de Matthias. Porém, convalescente ainda consegue encher um vidro de seu sangue e entregá-lo a Ductch antes de morrer.
Há uma superposição constante de mitos etnocêntricos herdados dos gêneros do faroeste e da ficção-científica na exaltação do homem branco anglo saxão nessa produção com estética tipicamente kitsch contemporânea – uso acentuado do zoom, trilha sonora claudicante. Nesse sentido o protagonista vivido por Heston está em completa consonância com o mito de Wayne no velho Oeste, ao passar o bastão da liderança para um outro branco mais jovem, que esse sim será capaz de implementar o mito edênico do jardim em meio ao deserto, literalmente referido a certo momento, ainda que impossível de se concretizar sem evidentemente a presença pioneira e um tanto quanto estóica do herói. Assim como um indivíduo que se erige contra a perigosa massificação de corpos e mentes tal e qual ficções-científicas paranoicas de viés anticomunista da década de 1950 (notadamente Vampiros de Almas). Como no universo do faroeste, novamente, os brancos são os únicos completamente confiáveis. A certo momento, Neville se gaba explicitamente de seu sangue anglo-saxão, algo que faz a diferença, no sentido de que os negros parecem possuir um sangue menos imune aos membros da Família – o que pode ser lido, evidentemente, como uma metáfora para um movimento negro que oscila entre o engajamento nos valores constituídos da sociedade americana, em que lhes é relegada geralmente uma segunda categoria ou se unirem aos abertamente descontentes com esse. Ou seja, há um que de traiçoeiro que se soma aos personagens de índios ou mestiços dos faroestes. A fobia com relação a uma esquerda progressista e anárquica se faz refletir, com muita precisão, no momento em que Neville (vivido por um ator como Heston, assumidamente conservador) relê algumas proclamações de Woodstock em um cinema abandonado que fazem referência a uma perigosa padronização do mundo guiada por espíritos conservadores que soa extremamente irônica e como que ressoa sob o sinal invertido na realidade vivida por ele. Para não comentar que Neville encarna o sonho de consumo de qualquer fascista, já que para sobreviver ele tem que massacrar alguns membros da Família de modo tão banal quanto  buscar comida. E a figura de Lisa se transforma de resoluta feminista, autônoma e agressiva em doce e apaixonada serva do herói com uma rapidez não menos que surpreendente. Com todas as suas precariedades, se tornou certamente uma referência para ficções apocalípticas tais como  Filhos da Esperança (2006). Havia sido produzida uma adaptação anterior do romance, em 1964, Mortos Que Matam e uma nova adaptação veio a ser produzida em 2007, Eu Sou a Lenda, com Vincent Price e Will Smith respectivamente na pele do herói. Warner Bros. 98 minutos.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: El Despojo (1960), Antonio Reynoso

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng