Filme do Dia: Os Piores Anos da Minha Vida (1940), Mario Mattoli
Os Piores Anos da Minha Vida (Non Me Lo Dire! (Itália, 1940). Direção: Mario Mattoli. Rot. Original: Marcello
Marchesi & Mario Mattoli a partir do argumento de Vittorio Metz &
Steno. Fotografia: Aldo Tonti. Música: Giovanni Fusco. Montagem: Mario
Serandrei. Dir. de arte: Piero Filippone & Mario Rappini. Figurinos: Mario
Rappini. Com: Erminio Macario, Vanda Osiris, Silvana Jachino, Enzo Biliotti,
Tino Scotti, Gugliemo Barnabò, Nino Pavese, Luigi Erminio D’Olivo.
Michele
Colombelli (Macario) é um visconde em apuros, perseguido pelos credores, após
ter dilapidado sua gigantesca fortuna com uma vida dissoluta, e atrás de uma
mulher para casar. Os credores se unem, armando um plano que lhes fará passar
toda a fortuna de Michele para eles, desde que o consigam mata-lo.
Estruturado
a partir da lógica humorística do desenho animado, assim como da comédia muda,
com resultado bem aquém do que a maior parte do que foi produzido por ambos.
Como nos outros filmes de Macario, que aparecia nos créditos muitas vezes
somente como Macario, tudo gira em torno de sua persona humorística, algo
infantilizada, algo efeminada, algo galanteadora e bastante atrapalhada.
Durante um longo período de sua primeira metade o filme é não mais que uma
sucessão de gags dos erros cometidos pelos que pretendem ver Macario morto, a
partir de clichês bastante próximos do universo da animação – como o candelabro
que cai sobre o piano, mas não sobre o pianista ou a dinamite travestida de
fogo de artifício que acaba parando justamente sobre quem a confeccionou. Há
uma evidente obsessão pelos Estados Unidos, associado ao que há de moderno por
uma elite caricaturada. Nada muito
diferenciado do que a chanchada produziria no Brasil. Aqui, no entanto, por
motivos mais que evidentes, as relações entre as classes sociais, não chegam a
ser exploradas, ainda quando tema para superficiais galhofas como em seus
equivalentes brasileiros. Emula-se Chaplin, Harold Lloyd – na cena em que
Macario pouco falta para cair do balcão de sua mansão – e a comédia pastelão,
mas sempre com a aparente consciência de ser uma emulação algo menor; algo
simbolicamente demarcado na altura que envolve a cena de Macario em comparação
com os arranha-céus de Lloyd. Mattoli também dirigiu outros veículos para
Macario, como o mais bem concebido Imputato Alzatevi! (1939) e produções mais pretensiosas como I 3 Aquilotti (1942). Aqui, destituído da mesma verve anárquica com
relação as instituições sociais do primeiro e sem o bom acabamento do segundo,
resta apenas as constantes referências de Macario diretamente para a câmera,
brincando igualmente com elementos da linguagem cinematográfica, ao se referir
às sobreposições que o apresentam em diversas situações, inclusive em seu
forçado final feliz – numa cena em que seu casamento feliz parece ser
contradito pela imagem de sua mulher e sogra correndo atrás dele, ele ordena
que os personagens mudem de comportamento e sigam o que o narrador afirma. Ou
ainda “puxando” a passagem de um plano para o seguinte. Interessante, mas muito
pouco, inclusive tendo em vista ter sido uma estratégia que começava a ser
explorada por animadores de ponta da indústria norte-americana, como Tex Avery.Capitani
Film para ENIC. 75 minutos.
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