Filme do Dia: A Rosa Púrpura do Cairo (1985), Woody Allen
A Rosa Púrpura do Cairo (The Purple Rose of Cairo, EUA, 1985). Direção e Rot. Original: Woody Allen. Fotografia: Gordon Willis. Música: Dick Hyman. Montagem: Susan E. Morse. Dir. de arte: Stuard Wurtzel. Figurinos: Jeffrey Kurland. Com: Mia Farrow, Jeff Daniels, Danny Aiello, Irving Metzman, Stephanie Farrow, Dianne Wiest, Van Johnson, Zoe Caldwell, Milo O´Shea.
Na Nova York dos anos 30, Cecilia (Farrow) é uma mulher pobre e insatisfeita com seu marido, Monk (Aiello), que lhe bate e traz mulheres para casa e com seu emprego como garçonete. Sua única fonte de satisfação é o cinema. Após ir pela quinta vez assistir o mesmo filme, A Rosa Púrpura do Cairo, surpreende-se com o inusitado: um dos personagens, Tom Baxter (Daniels), galante e explorador de ruínas antigas, começa a se dirigir para ela, saindo do filme e indo ao encontro dela. Enquanto o evento que ocorre no cinema provoca a preocupação dos produtores do filme, o ator que vive Baxter, Gil Shepherd (Daniels) é abordado por Cecilia, que acredita ser o personagem do filme. Aos poucos Shepherd também demonstra interesse por Cecilia e um conflito se instaura entre ele e seu personagem. Porém, dividida entre a realidade e a fantasia, Cecilia escolhe Shepherd e Baxter retorna ao filme, onde o elenco há tempos especulava, dividido, se ele deveria ou não ficar com ela. Sempre retornando a casa do marido quando de suas experiências mal sucedidas, esse é o destino de Cecilia, ao arrumar suas malas e descobrir perplexa que Shepherd partira para Hollywood. Nem assim abandona o hábito de ir ao cinema, onde assiste um filme com Fred Astaire.
Esse é mais um dos filmes do cineasta em que a originalidade e a ousadia se contrapõem aos seus dramas e comédias realistas ambientadas na classe média alta nova-iorquina contemporânea. Provocadora e ambígua é sua apreciação da relação entre cinema e realidade: mesmo que aparentemente seja uma defesa da capacidade do cinema de suprir nossa necessidade de sonhar, pesa menos para o tom tributário de filmes como Noite Americana (1973), de Truffaut, que para uma certa constatação, não necessariamente benéfica, da necessidade quase dependente de uma válvula de escape para um mundo hostil e sem maiores esperanças concretas de mudança. Portanto, um motivo maior para acomodação e conformismo que para transformação – a situação da protagonista ao final continua tão problemática quanto no início. E, igualmente, a forma como contrapõe seres reais buscando a fantasia da ficção da mesma forma que personagens da ficção que pretendem ser encarados como reais. Também interessante, menos em termos reflexivos que cômicos, na relação entre fantasia e realidade, são as inadaptações do personagem cinematográfico no mundo real, sempre regurgitando mecanicamente clichês agradavéis e incapazes de lidar com situações concretas como sexo e dinheiro. Como Broadway Danny Rose, trata-se de um dos poucos filmes do cineasta a ter personagens de classes menos economicamente favorecidas. Wiest, que faria uma participação brilhante em Hannah e Suas Irmãs, aparece brevemente no papel de prostituta. Orion. 82 minutos.
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