Filme do Dia: Uma Vida Difícil (1961), Dino Risi
Uma Vida Difícil (Una Vita Difficile, Itália, 1961). Direção: Dino Risi. Rot.
Original: Rodolfo Sonego. Fotografia:
Leonilda Barboni. Música: Carlo Savina.
Montagem: Tatiana Casini Morigi. Dir. de arte: Mario Chiari & Mario Scisci.
Figurinos: Lucia Mirisola. Com: Alberto Sordi, Lea Massari, Franco Fabrizi,
Lina Volonghi, Claudio Gora, Antonio Centa, Loredana Nusciak, Mino Doro,
Daniele Vargas.
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Silvio (Sordi) é membro da
resistência italiana na Segunda Grande Guerra que é salvo do fuzilamento pela
filha da dona de uma estalagem, Elena (Massari), que lhe esconde em um moinho
por três meses e a quem promete casamento. Dois anos depois, iniciando sua
carreira como jornalista, Silvio se depara com a ilha e volta com o intuito de
se divertir juntamente com o amigo Franco (Fabrizi), mas leva consigo Elena,
que rompe seu noivado para ir com ele a Roma. Já com filho pequeno, Silvio
desperdiça a chance de enriquecer, ao recusar o suborno de um milionário a quem
denuncia negócios escusos e termina preso. Ao sair da prisão não mais consegue
o emprego de volta, por pedido da própria esposa e de sua sogra, Amelia
(Volonghi). O sonho da sogra é que Silvio se torne um acadêmico, mas ele não se
sai bem nos exames e, embriagado é abandonado por Elena após uma discussão depois do fracasso. Anos depois, trabalhando em um balneário reencontra Elena, namorada
do rico e elegante Carlo (Centa). Após seguir o casal e brigar em público com
Carlo, esse rompe com Elena, que parte furiosa. No dia do enterro da mãe,
Silvio chega dirigindo um carro conversível e diz que mudou de vida. Logo,
Elena descobrirá se tratar de propriedade do Comendador Bracci (Gora), para
quem Silvio serve como capacho, sendo humilhado diante dela, em uma festa para
a alta sociedade. Silvio se vinga de Bracci e sai de cabeça erguida da
festa com a esposa.
Mesmo que menos agradável e de tão
fácil empatia com o público como outro
filme seu do período (Aquele que Sabe Viver) e talvez por isso mesmo, aqui a impressão que se fica é que, ao
contrário do filme que lançaria no ano seguinte, a segunda metade do filme se
torna mais interessante que um início mais próximo dos clichês da comédia
italiana de costumes de então. A partir de determinado momento, fica evidente
que sua trama serve para propósitos de fazer uma revisão crítica da sociedade
italiana que vai desde o momento imediatamente posterior a guerra – no sentido
de que o prólogo ainda ambientado à época da guerra não possui nenhum peso em
termos dessa crítica – até a sociedade deslumbrada com sua própria afluência
econômica, carros, festas, corrupção e hipocrisia. Enquanto personagem que fica
fiel a seus valores, Silvio se torna
crescentemente patético. Todos tocam suas vidas, mas ele é flagrado pela esposa
e seus amigos janotas com um sapato furado ou – na cena talvez mais tocante de
todo o filme – completamente deslocado, vulnerável e bêbado com um copo de
uísque a olhar para a mesa onde se encontra a esposa. Pode-se até questionar o
modo auto-condescendente e mesmo paternalista com que Silvio é retratado ou a
saída fácil apresentada por seu final, não o tino crítico de Risi para com a
sociedade italiana do pós-guerra, na qual a continuidade com a corrupção, os
valores fascistas e o arrivismo social apresentam uma faceta pouco explorada
pela cinematografia italiana do período. E o próprio cinema – o de maior apelo
comercial, evidentemente, representado pela figura do realizador mais louvado
na época da Itália fascista, Alessandro Blasetti, com quem o próprio Sordi
iniciaria sua carreira - se torna também passível de crítica, quando Blasetti
recusa o roteiro de Silvio, com o mesmo título do filme de Risi, alegando que
não se envolveria em projeto tão “polêmico". Por outro lado, se critica o cinema mais
abertamente comercial, tampouco deixa de soltar suas farpas contra uma arte
(leia-se cinema) excessivamente formalista, como é o discurso apaixonado de
Silvio sobre seu próprio livro e o quanto de conteúdo possui, logo diminuído por um dos editores por ser
formalmente “medíocre”, o que certamente o filme de Risi está longe de
ser. Talvez outro ponto que o favoreça
em relação ao seu filme seguinte seja a clareza de sua perspectiva política,
dimensão que se torna ambígua e mesmo contrária a aqui apresentada em Aquele que Sabe Viver. Destaque para a
bela fotografia em preto&branco e para as pontas de Vittorio Gassman, que
seria protagonista de seu filme seguinte, e Silvana Mangano vivendo a si
próprios. Assim como para o tom deletério com que seu protagonista, do mesmo
modo que Gassman no filme posterior se refere aos negros. Dino de Laurentiis
Cinematografica. 118 minutos.
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