Filme do Dia: A Mulher de Negro (1956), Michael Cacoyannis
A Mulher de Negro (Koritsi Mi Ta Mavra, Grécia, 1956).
Direção e Rot. Original: Michael Cacoyannis. Fotografia: Walter Lassaly. Música:
Arghyris Kounadis. Com:
Ellie Lambeti, Dimitris Horn, Eleni Zafiriou, George Foundas, Stephanos
Stratigos, Nikos Fermas, Notis Peryalis, Anestis Vlahos.
Pavlos (Horn), escritor de uma família rica de
Atenas, decide passar uma semana de férias em uma província, ao lado do amigo Antoni
(Peryalis). Imediatamente sente-se atraído pela filha da dona da residência
onde se hospedam, Marina (Lambeti). Marina, no entanto, filha de um falecido
comerciante local, sente-se profundamente insatisfeita com a decadência
econômica e a degradação moral de sua família, sendo a mãe (Zafiriou) flagrada
com um pescador e espancada pelo filho Mitso (Vlahos) em plena rua. Mitso apanha
do mesmo pescador e é incitado pelo grupo do perverso pescador Christos
(Foundas) para que fique atento na paixão de sua irmã pelo ateniense Pavlos,
que possui fama da playboy. Sob ameaça de Mitso, Antoni retorna à Atenas, mas
Pavlos fica prometendo realizar seu passeio com Marina. Ele vai em um barco que
pertence a Christos que é sabotado pelo mesmo. No meio do caminho não resiste a
um breve passeio com um grupo de crianças que naufragam com ele. Os pescadores
salvam parte do grupo, mas três crianças morrem, inclusive uma sobrinha de
Christos. Pressionado por Marina, o pescador confessa seu plano à polícia e
Pavlos é solto.
Descontada a inverossímil concentração de tantos
afetos em tão poucos dias e um certo tom moral que vilaniza o provinciano em
detrimento do moderno, de uma forma um tanto quanto maniqueísta, assim como um
certo fatalismo vitimizado que soa datado na figura da protagonista, o filme
permanece como uma das melhores obras de Cacoyannis. Sua força advém tanto da
soberba fotografia em p&b do veterano Lassaly, quanto de sua pungente
descrição de uma cultura machista e da invasão do público na dimensão da vida
privada. Aliás, a temática das relações de gênero numa sociedade em que os
conflitos entre elementos tradicionais e modernos se torna cada vez mais
acentuada se faz presente em outro vigoroso trabalho do realizador, Stella.
Com todos os seus limites, os filmes dessa fase inicial de Cacoyannis ainda não
se encontram completamente tragados pela sedução de retratar a cultura grega
como um exotismo pueril para consumo externo, como no seu filme mais conhecido,
Zorba, o Grego. Lambeti, menos talentosa e mais bela que Mercouri,
protagonista de Stella e posteriormente ícone do cinema internacional,
atravessa praticamente todo o filme com a mesma expressão em que sobressaem
seus melancólicos olhos. Já o personagem de Mitso desaparece subitamente da
narrativa, facilitando o final feliz. Hermes Film. 94 minutos.
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