Filme do Dia: Cipião, O Africano (1937), Carmine Gallone
Cipião, O Africano (Scipione,
L’Africano, Itália, 1937). Direção: Carmine Gallone. Rot. Original: Carmine
Gallone, Camillo Mariani Dell’Aguillara, Sebastiano A. Luciani & Silvio
Maurano, sob argument de Gallone, Dell’Aguillara & Luciani. Fotografia:
Ubaldo Arata & Anchise Brizzi. Música: Ildebrando Pizzetti. Montagem:
Oswald Hafenrichter. Dir. de arte: Pietro Aschieri. Cenografia: Carmine
Gallone. Figurinos: Pietro Aschieri. Com: Annibale Ninchi, Camillo Pilotto,
Fosco Giachetti, Francesca Braggiotti, Marcello Giorda, Gugliemo Barnabò, Isa
Miranda, Memo Benassi.
O jovem e impetuoso Scipio (Ninchi)
defende a polêmica ideia de invadir a África no Senado romano em 202 A.C. Ele
terá que se deparar com o brutal Annibale (Pilotto). Scipio leva 15 anos para
conseguir arregimentar um exército capaz de fazer frente ao líder cartaginês. Enquanto isso, a
Rainha Sophonisba (Braggiotti), seduz um dos homens mais importantes para a
campanha de Scipio, Massinissa (Giachetti). A batalha decisiva entre Scipio e
Annibale, em Zama, onde a estratégia de neutralizar uma das armas mais
importantes do inimigo, seus elefantes, acaba selando a vitória de Scipio e do
império romano.
Tudo no filme soa monumentalidade.
Seguindo a tradição dos épicos mudos italianos, dos quais o mais célebre fora Cabíria, tudo é pensado em larga
escala: da quantidade exorbitante de milhares de extras a triunfalista trilha
sonora marcada pelas cornetas marciais, passando pelos cenários surpreendentes
e movimentos de câmera elaborados. O filme não consegue ser feliz, no entanto,
na escalação de seu elenco, ao menos no que diz respeito ao seu protagonista,
vivido por um anêmico e inexpressivo Ninchi, capaz por vezes de provocar uma
hilaridade involuntária em contraposição a garra que impregna o seu rival.
Mesmo com todas as cenas de batalhas, sobretudo a final, e da aclamação de um
Scipio pelo povo, enquanto satirizado por boa parte da elite política (numa
evidente alusão a própria trajetória política de Mussolini, para não falar de
suas contemporâneas incursões na Étiopia), a justificar seus valores de
produção, o filme dispensa a maior parte de seu tempo em apresentar as
engrenagens diplomáticas e os bastidores do poder. Em termos visuais, o que de
longe mais impressiona é o seu uso, um tanto deslocado, diga-se passagem, de um
recurso como o zoom, sobretudo em
cenas de multidão, antecipando sua popularização em não menos que três décadas.
Cenas do filme podem ser observadas em Splendor
(1989), de Ettore Scola. Gallone voltaria a abordar a guerra entre Roma e
Cartago numa produção de 1960. Não deixa de ser sintomático que o filme que
traduza melhor que qualquer outro a ideologia fascista, e tenha tido maior
suporte da mesma, mesmo que a todo momento lembrada pela saudação, origem da
fascista, efetuada pela multidão (fala-se em mais de 30 mil extras) finde por
se apropriar de um épico histórico mais do que de uma temática contemporânea.
Consorzione Scipione L’Africano/ENIC para ENIC. 117 minutos.
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