Filme do Dia: A Arte da Felicidade (2013), Alessandro Rak
Arte da Felicidade (L’arte della Felicittà,
Itália, 2013). Direção: Alessandro Rak. Rot. Original: Alessandro Rak &
Luciano Stella, a partir de argumento de Rak, Stella, Nicola Barile & Paola
Tortora. Música: Antonio Fresa & Luigi Scialdone. Montagem: Marino
Guarnieri.
Sergio, taxista que vive nas imundas ruas de
uma Nápoles, trafega algo desesperado por suas ruas como pelos meandros de seu
próprio passado, à sombra da morte do irmão mais velho Alfredo, e da dupla
musical que prometeram ser um dia. O irmão, no entanto, preferiu se refugiar em
uma vida monacal no Tibete. Sergio, por sua vez, a fazer uso do carro do tio
como táxi, onde ocasionalmente escuta as palavras de um programa de rádio
chamado A Arte da Felicidade.
Interessante como seja, nessa animação tudo
parece se encontrar a reboque do ego ferido de seu protagonista, não parecendo
possuir vida própria. E, ainda pior, até mesmo o mundo parece girar em torno
desse ego ferido, tal como em algumas das fantasias mais tresloucadas de um
Tarkovski (O Sacrifício) ou Malick (A Árvore da Vida). Só assim
se pode pensar Sergio encontrar, ainda que em sua fantasia, um piano a sua
disposição e funcionando em meio a um
casarão deserto, após o ataque massivo do Vesúvio sobre Nápoles, sendo que toda
a estrutura visual, fadada a reproduzir a do cinema de ação ao vivo, se torna
grandiloquente e com “movimentos de câmera” evocativos dos de um clipe. Mesmo
com toda essa autoindulgência, não se pode negar que o filme, a seu modo, não
abre concessões a sua proposta. E o faz através de vigorosos traços que
ressaltam a empedernida posição de seu amargurado protagonista. Não parece
exatamente uma descrição no estilo “ilusões perdidas”, pois nem mesmo a essas
se tem um vislumbre do que tenham sido ou se conformariam a infância e as
brincadeiras com o irmão? Quando incitado pela garota desesperada que adentra
seu táxi para que a leve a um local que fora marcante de seu passado, ele a
leva a um casarão que pertencera a seus avós. Porém, nada como uma memória
cristalina tais como as que surgem usualmente, como que por encanto, dos
flashbacks cinematográficos. O passado é igualmente turvo. Enquanto expressão
não sentimental dos (res)sentimentos de seu protagonista o filme talvez tenha
seu ponto mais forte. E tal expressão se dá numa sutil mescla entre fantasia e
realidade, passado e presente, sonho,
memória e realidade, memória como realidade. E se torna evidente que o
irmão mais velho assume a figura paterna muito mais que o próprio pai, com o
qual tem uma conversa rápida em noite de natal. Ao final, cumprido o rito de
“despedida” do irmão através da leitura de sua carta póstuma, a vida presente
parece acenar com força no reencontro com a garota que um dia pegara seu táxi e
lhe despertara algo como um “retorno à vida”. No entanto, até mesmo ela, parece
ser mais uma figura a reboque dos desejos e momentos do estado psicológico de
Sergio. Filme de estreia de Rak e provavelmente baseado em traços
autobiográficos do mentor do projeto, co-roteirista e co-produtor Luciano
Stella, a cujo irmão, também Alfredo, o filme é dedicado. Big Sur/Mad Ent. para
Cinecittà LUCE. 82 minutos.
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