Filme do Dia: O Pássaro Azul (1918), Maurice Tourneur
O Pássaro
Azul (The Blue Bird, EUA, 1918). Direção: Maurice Tourneur. Rot.
Adaptado: Charles Maigne, baseado na peça L`Oiseau
Bleu, de Maurice Maeterlinck. Fotografia: John van der Broek. Montagem:
Clarence Brown. Dir. de arte e Figurinos: Ben Carré. Com: Tula
Belle, Robin Macdougall, Edwin E. Reed, Emma Lowry, William J. Gross, Florence
Anderson, Edward Elkas, Katherine Bianchi, Lilian Cook.
Mytil (Belle) e Tyltyl (Macdougall)
são duas crianças pobres que invejam o fausto de uma família rica dos
arredores. Por outro lado, uma velha senhora, Berlingot (Elkas), cobiça o
pássaro azul de Mytil e Tyltyl, para curar sua criança da tristeza. Uma fada,
Berylune (Cook) faz com que os dois irmãos passem a vivenciar um mundo
encantado, aonde os animais de estimação passam a se comunicar com eles, assim
como o Fogo, a Água, o Pão e a Luz, no qual devem encontrar o pássaro azul. Na
sua jornada as crianças conseguem trazer um pássaro na gaiola mas quando
abandonam um dos reinos encantados que visitam descobrem que a gaiola se
encontra vazia. Ao acordarem na manhã seguinte, descobrem que o pássaro que
possuem em casa é um pássaro azul e o levam para a criança, que rapidamente
melhora. Porém, quando comemoram, o pássaro voa. Mytil e Tyltyl consideram que
já foi suficiente o tempo em que conviveram com o pássaro.
Essa adaptação da peça de
Maeterlincki, que já havia rendido uma adaptação oito anos antes pelo cinema
britânico e que ainda renderia quatro outras
(uma pelo cinema soviético, outra por Gabriel Axel e duas produções
norte-americanas dirigidas por Walter Lang e George Cukor respectivamente em
1940 e 1976) provavelmente é a que melhor soube traduzir o mundo de fantasia da
peça para os recursos cinematográficos. E Tourneur consegue efetivar tal
façanha de modo a criar um filme de fantasia pioneiro no qual o universo dos
efeitos se encontram à serviço de uma lógica narrativa já plenamente clássica,
ao contrário, por exemplo de realizadores do cinema dos primeiros tempos
(Méliès, Zecca e Segundo de Chomón como maiores exemplos). A graça e certa
sutileza com que Tourneur agrega efeitos especiais diversos, seja a filmagem
quadro a quadro para apresentar os móveis que se movimentam sozinhos (tema
único da comédia de Chomón, El Hotel Eléctrico,
de 1904) ou o voo da fada e das crianças, assim como a função fundamental
delegada à cenografia, parecem antecipar todo um gênero de filme de fantasia
que terá talvez seu exemplar mais célebre no cinema sonoro com O Mágico de Oz (1939). Seu tom sombrio,
por sua vez, antecipa elementos do expressionismo alemão. Para não falar da
própria poética bem mais elaborada que tais trucagens efetivarão na obra de um
Jean Cocteau. A moral da história, um tanto conformista, remete a uma crítica à
cobiça - apesar das crianças invejarem a família rica não se perceberem de que
se encontram em bem melhor situação do que a velha e sua filha doente – porém
ao mesmo tempo aponta para uma por demais evidente metáfora para a fugacidade
dos momentos felizes na vida, como se só a necessária compreensão dessa
limitação a tornasse plena de sentido. O encanto da metáfora se perde pelo tom
didático que impregna a peça, assim como suas adaptações para o cinema, ao
menos as norte-americanas, e que aqui se resolve (tal como na produção de 1940)
com uma mensagem das crianças diretamente para a câmera/espectador.
Infelizmente boa parte do encanto do filme não será plenamente sentido na cópia
que sobreviveu por essa se encontrar relativamente danificada. National Film Registry em 2004. Famous Players-Lasky Corp. 75 minutos.
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