Filme do Dia: A Criança (2005), Jean Pierre & Luc Dardenne
A Criança (L´Enfant,
Bélgica/França, 2005). Direção e Rot. Original: Jean-Pierre & Luc Dardenne.
Fotografia: Alain Marcoen. Montagem: Marie-Hélène Dozo. Dir. de arte: Igor
Gabriel. Figurinos: Monic Poulle. Com: Jérémie Penier, Déborah François,
Jérémie Segard, Fabrizio Rougiane, Olivier Gourmet, Stéphane Bissot, Mirelle
Bailly, Anne Gerard.
Bruno (Penier), jovem que leva a vida
praticando pequenos furtos, tem a sua já instável vida completamente agitada
com a chegada de um filho que não esperava com Sonia (François). Disposto a
vender a criança para um casal disposto a adotá-la, Bruno traz de volta o filho
quando percebe a crise nervosa que provocou em Sonia, que não pretende mais se
relacionar com ele. Cada vez mais enredado em sua teia auto-destrutiva, Bruno se
une ao adolescente Steve num furto que provoca a prisão do mesmo. Bruno decide se entregar a polícia e já
encarcerado possui o reencontro emocionado com Sonia.
Embora o filme possua seus pontos de
contato com o universo de Bresson
(notadamente Pickpocket)
tanto em sua busca de uma recusa de artifícios dramáticos banais, como o uso de
trilhas sonoras, quanto na própria narrativa que sugere uma redenção de um
personagem marginal destituído de qualquer sentimento maior com relação à vida,
notadamente na emocionante seqüência final, o filme tampouco deixa de enveredar
por recursos estilísticos mais convencionais. Nesse sentido, sua utilização de
uma câmera nervosa na mão e algumas situações dramáticas chegam a ser menos
evocativas de Bresson ou de um filme próximo do ascetismo bressoniano, A Vida de Jesus (1998), de Bruno
Dumont, que de uma já desgastada proposta de realismo mimético e tensão
dramática mais associado aos cineastas vinculados ao Dogma-95. Na gangorra
entre essas duas vertentes estéticas, o filme consegue transformar em
plenamente humana mesmo a vida de um pária social (a certo momento, quando o
protagonista foge na sua motocicleta com o comparsa, pode-se evocar a seqüência
final de Desajuste Social, ainda que
sem o tom épico e barroco do filme de Pasolini) profundamente inconseqüente com
seus semelhantes e potencialmente condenado já por antecipação pelo olhar do
espectador. Mesmo com um excelente desempenho dos atores, o pária vivido por
Penier está longe de provocar o mesmo efeito dramático seja do protagonista de
Pasolini, seja da estratégia mais próxima vivida pelos personagens de Pickpocket e A Vida de Jesus. Talvez por conta de sua descrição desse membro do
lumpem-proletariado e de seu vazio, aqui representado por sua preocupação acima
de tudo com o consumo imediato de objetos e sensações, soe menos sutil que nos
filmes de Bresson e Dumont, menos preocupados em expressarem uma dimensão mais
estritamente sociológica do que metafísica. Aqui, ainda que a pretensão
provavelmente tenha sido a mesma, ainda se percebe uma presença mais forte de
situações evocativas, inclusive, da produção neorrealista de meados do século
passado. Palma de Ouro no Festival de Cannes. 95 minutos.
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