Filme do Dia Superoutro (1989), Edgar Navarro
SuperOutro (Brasil, 1989). Direção, Rot. Original e Montagem:
Edgar Navarro. Fotografia: Lázaro Faria. Com: Bertrand Duarte, Nilda Spencer.
Em Salvador, um esquizofrênico
(Duarte) se defronta com a polícia, perambula pelas ruas da cidade, afronta um
homem parado no sinal de trânsito e pretende realizar seu maior sonho, voar
pelos céus de Salvador tal e qual o Super-Homem do cinema.
Esse média-metragem, inusitado sob
vários aspectos, inclusive no próprio formato, diante da produção nacional
contemporânea, parece mais ser uma elaboração tardia de muito do universo
anárquico da produção em Super-8, do qual o próprio Navarro foi um dos nomes
mais relevantes, como do Cinema Marginal. Nesse sentido vai desde o espírito de
colagem, grandemente semelhante a um dos clássicos do Cinema Marginal, Meteorango Kid, um Herói Intergalático (1969), também baiano, até a provocação através da escatologia, seja na masturbação do herói diante de uma
loja que exibe um programa de televisão com uma garota que acha atraente ou
defecando e depois entregando o jornal para um rapaz que dirige um carro, ambos
referências ao próprio universo de curta-metragem do realizador. Ou ainda no
linguajar chulo e nas tomadas de fotografias de sexo explícito detalhadas ao
máximo. Não falta ainda uma crítica ao imperalismo americano, no seu viés cinematográfico, evocando Super-Homem (1978), de Richard Donner,
na sua trilha musical e como um desejo do herói, que se manifesta através de
efeitos bem mais canhestros, numa referência típica ao “se não se pode fazer
igual, se esculacha com o modelo”, da chanchada. Tampouco inexiste uma dimensão
documental, no sentido de que o ator muitas vezes nitidamente interage com
elementos da população local ou improvisa diante de uma realidade não
organizada especificamente para o filme, tal como no momento da parada, de
algum modo evocativos das estratégias buriladas de modo mais complexo por Iracema, uma Transa Amazônica (1976). E
ainda a miscelânea musical que compõe sua trilha sonora, tão fragmentária e
repleta de referências como suas seqüências. Com sua narrativa pontuada por
letreiros que fazem menção ao calendário, a única distinção evidente da
produção anterior ao qual se identifica foi a necessidade de transformar seu
protagonista em um louco, algo que estava longe de ser explicitado da mesma
forma na produção de duas décadas antes. Referências diretas ao próprio universo
do cinema soçobram, sejam a a Nosferato no Brasil (1971), de Ivan Cardoso ou Amarcord (1973), de Fellini, de quem Navarro também se inspirou para seu longa
posterior Eu Me Lembro (2005),
Lumbra Cinematográfica/Sani Filmes. 46 minutos.
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