The Film Handbook#142: Peter Weir
Peter Weir
Nascimento: 21/08/1944, Sidney, Austrália
Carreira (como diretor): 1967-
O mais conhecido realizador a emergir do cinema australiano dos anos 70, Peter Weir tem provado sucessivamente ser um talento eficiente e ambicioso. Porém suas pretensões parecem maiores que suas conquistas: tentando explorar os mistérios irracionais que subjazem à civilização, e o abismo entre as culturas primitiva e moderna, raramente se eleva acima de generalizações pouco claras.
Tendo já trabalhado na televisão, Weir dirigiu diversos curtas vagamente experimentais antes de realizar sua estreia no longa-metragem (e talvez seu melhor filme), Confusão em Paris/The Cars that Ate Paris>1, em 1974. Uma modesta, mas grandemente criativa, comédia-filme de ação no qual a vítima de um acidente de carro, recuperando-se em uma vila remota, descobre ser prisioneiro de uma comunidade que é tão dependente da sucata do metal canibalizado dos veículos que os atrai em uma rodovia próxima, que é capaz de matar para preservar seu segredo. O filme possui um peculiar humor negro, infelizmente ausente da obra posterior de Weir. Picnic na Montanha Misteriosa/Picnic at Hanging Rock>2, impressionante o suficiente por seu retrato languidamente atmosférico de um pensionato para garotas vitoriano foi, no entanto, prejudicado por sua atitude liricamente voyeuristica em relação a suas heroínas obcecadas por romances e por alusões obscuras e simbólicas a um mistério sobrenatural, quando um grupo de garotas desaparece inexplicavelmente durante um piquenique. Igualmente relativo aos poderes malevólos de uma natureza panteísta e a fragilidade da cvilização ocidental foi A Última Onda. Aqui, as investigações de um advogado branco liberal sobre um assassinato tribal em um grupo de aborígenes levam-no a uma confusa etnografia e especulações lúgubres sobre o apocalipse, risíveis, em última instância, já que tudo passa a ser ordinariamente observado através de uma lente olho de peixe.
Menos ambicioso porém em todo mais coerente, Gallipoli>3 aborda dois jovens australianos (um patrioticamente devotado ao Império Britânico, o outro cegamente isolacionista) que se juntam ao Exército em 1916, somente para morrerem como buchas de canhão na desastrosa campanha de Dardanelos da I Guerra Mundial; se sua postura anti-britânica foi um pouco óbvia, o tratamento das cenas de guerra e sua evocação da enormidade geográfica do interior australiano produziram visuais hipnóticos e poderosos. Quando lidou, por sua vez, com a queda do regime de Sukarno em 1965 na Indonésia, como vivenciado por uma jornalista australiana e seu amante americano em O Ano Que Vivemos em Perigo/The Year of Living Dangerously, Weir pareceu incapaz de desembaraçar sua teia complexa de questões políticas e morais: o filme foi um romance convencional, observado contra um pano de fundo mal definido da ameaça de um levante social. Da mesma forma, A Testemunha/Witness>4 fez uso de seu tema de choque de culturas (um policial da cidade protegndo um garoto que foi testemunha de um homicídio é forçado a se proteger e, portanto, a trazer violência para uma comunidade Amish, cuja crenças arcaicas e fundamentalistas são desafiadoramente pacifistas); a despeito de seu límpido lirismo visual, apresentava implausíveis clichês em sua trama, sentimentalismo lacrimogêneo e uma visão dos Amish por demais simplisticamente idealizada enquanto bem intencionados.
A aparente inspiração de Weir pela paixão dos anos 60 por sociedades alternativas e menos tecnologicamente desenvolvidas novamente se manifestou por si própria em sua fiel, mas sentimental, adaptação de A Costa do Mosquito/The Mosquito Coast, de Paul Theraux, no qual o excêntrico inventor de uma cidadezinha americana leva sua família e sua engenhoca de fazer gelo para uma selva na América Central, somente para se tornar presa dos mercenários ocidentais e sua própria tendência arrogante à tirania megalomaníaca. Novamente, o gosto de Weir pelo exótico deu vazão a imagens ocasionalmente repletas de vida, mas a ausência de uma perspectiva moral coerente nas condenações misantrópicas de seu protagonista, assim como pronunciamentos apologéticos de retorno à natureza, enfraqueceram tanto a errante narrativa quanto o texto subliminar político e ecológico.
Weir parece demasiado cauteloso na abordagem intelectual de seus filmes para enfrentar apropriadamente os temas complexos que o atraem. Se ele não é mais que um habilidoso e eficiente homem da indústria, a ausência de profundidade de sua obra sugere que jamais será um grande diretor.
Menos ambicioso porém em todo mais coerente, Gallipoli>3 aborda dois jovens australianos (um patrioticamente devotado ao Império Britânico, o outro cegamente isolacionista) que se juntam ao Exército em 1916, somente para morrerem como buchas de canhão na desastrosa campanha de Dardanelos da I Guerra Mundial; se sua postura anti-britânica foi um pouco óbvia, o tratamento das cenas de guerra e sua evocação da enormidade geográfica do interior australiano produziram visuais hipnóticos e poderosos. Quando lidou, por sua vez, com a queda do regime de Sukarno em 1965 na Indonésia, como vivenciado por uma jornalista australiana e seu amante americano em O Ano Que Vivemos em Perigo/The Year of Living Dangerously, Weir pareceu incapaz de desembaraçar sua teia complexa de questões políticas e morais: o filme foi um romance convencional, observado contra um pano de fundo mal definido da ameaça de um levante social. Da mesma forma, A Testemunha/Witness>4 fez uso de seu tema de choque de culturas (um policial da cidade protegndo um garoto que foi testemunha de um homicídio é forçado a se proteger e, portanto, a trazer violência para uma comunidade Amish, cuja crenças arcaicas e fundamentalistas são desafiadoramente pacifistas); a despeito de seu límpido lirismo visual, apresentava implausíveis clichês em sua trama, sentimentalismo lacrimogêneo e uma visão dos Amish por demais simplisticamente idealizada enquanto bem intencionados.
A aparente inspiração de Weir pela paixão dos anos 60 por sociedades alternativas e menos tecnologicamente desenvolvidas novamente se manifestou por si própria em sua fiel, mas sentimental, adaptação de A Costa do Mosquito/The Mosquito Coast, de Paul Theraux, no qual o excêntrico inventor de uma cidadezinha americana leva sua família e sua engenhoca de fazer gelo para uma selva na América Central, somente para se tornar presa dos mercenários ocidentais e sua própria tendência arrogante à tirania megalomaníaca. Novamente, o gosto de Weir pelo exótico deu vazão a imagens ocasionalmente repletas de vida, mas a ausência de uma perspectiva moral coerente nas condenações misantrópicas de seu protagonista, assim como pronunciamentos apologéticos de retorno à natureza, enfraqueceram tanto a errante narrativa quanto o texto subliminar político e ecológico.
Weir parece demasiado cauteloso na abordagem intelectual de seus filmes para enfrentar apropriadamente os temas complexos que o atraem. Se ele não é mais que um habilidoso e eficiente homem da indústria, a ausência de profundidade de sua obra sugere que jamais será um grande diretor.
Cronologia
Embora seja útil comparar Weir com seus compatriotas tais como Gilliam Armstrong, Fred Schepisi, Paul Cox e Richard Lowenstein, talvez também possa se considerar sua relação com contemporâneos americanos, mais notadamente Spielberg que, como Weir, demonstraram interesse nos efeitos do irracional na civilização moderna.
Leituras Futuras
Australian Cinema 1970-1985 (Londres, 1987), de Brian MacFarlane
Destaques
1. Confusão em Paris, Austrália, 1974 c/Terry Camilleri, John Meillon, Melissa Jaffa
2. Picnic na Montanha Misteriosa, Austrália, 1975 c/Anne Lambert, Rachel Roberts, Helen Morse
3. Gallipoli, Austrália, 1981 c/Mark Lee, Mel Gibson, Bill Kerr
4. A Testemunha, EUA, 1985 c/Harrison Ford, Kelly McGillis, Josef Sommer
Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longma, 1989, pp. 307-8.
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