Filme do Dia: Um Filme para Nick (1980), Wim Wenders & Nicholas Ray
Um Filme para Nick (Lightning Over Water/Nick’s Film, Suécia/Al.Ocidental, 1980).
Direção e Rot. Original: Wim Wenders & Nicholas Ray.
Fotografia: Edward Lachman & Martin Schafer. Música: Ronee Blakley. Montagem: Peter Pryzgodda &
Wim Wenders.
Enquanto filmava Hammett, Wenders viaja para Nova York para conversar com Nicholas Ray, que agoniza de um câncer no pulmão e sabe que não viverá muito. Ray
discute uma proposta estapafúrdia de roteiro a ser filmada por Wenders – um
pintor moribundo decide partir para a China onde encontrará a cura para o seu
mal - inconcebível no estado de saúde ao qual se encontra. Nesse documentário
abertamente encenado – a determinado momento, Wenders dirige Ray diante da
câmera, a noção entre encenação e realidade é a todo momento posta em jogo, ao
ponto de se perceber que tudo é encenação, inclusive as ações sociais. Um dos
primeiros filmes de um realizador mais conhecido a mesclar abertamente imagens
em vídeo com material filmado em película, pretende fazer uso da primeira como
registro dos bastidores enquanto a segunda, demasiado bem enquadrada e polida, provoca
certo estranhamento ao ser utilizada para um tema documental, como é o caso das
cenas no loft de Ray. Uma das obsessões de Wenders no momento (que motivaria o
seu posterior Quarto 666), que é o
fim do cinema como era então conhecido se soma aqui a morte de determinado
cinema e de um de seus realizadores típicos. E o filme não desperdiça a chance
de flagrar, a partir de uma caravela aparentemente deserta no Rio Hudson, um
jarro com as cinzas do realizador e uma câmera a esmo. Ray, que toma a decisão
de interromper o próprio filme, com o “corta” para a câmera, já se encontra
morto. E é nesse epílogo que se constata que tal filme retrata um Wenders a
meio a caminho entre suas produções seminais da mesma década (Alice nas Cidades, No Decorrer do Tempo) e o pastiche tedioso, pouco pessoal ou tocante
ao qual se encaminhou a maior parte do que produziu posteriormente, com algumas
raras exceções (Paris, Texas e Asas do Desejo). Nesse sentido, o que havia se construído como uma tocante
homenagem, incluindo generosas cenas de produções dirigidas pelo próprio Ray,
como um filme experimental, realizado com os estudantes da universidade onde
passou a dar aulas ou seu clássico Paixão
de Bravo (1952), conta com um
epilogo pouco inspirado, em que a própria equipe do filme, à guisa de outro
final melhor, fala bobagens e procura fazer piada com a própria situação,
aparentemente dentro da “caravela” que circula pelas proximidades de Nova York.Existe uma
versão mais longa (116 minutos), exibida no Festival de Cannes, que seria
reeditada pelo próprio Wenders. Road Movies Filmproduktion//Viking Film/Wim Wenders Filmproduktion. 91 minutos.
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