Filme do Dia: Longe de Ti (1933), Mikio Naruse




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Longe de Ti (Kimi to Wakarete, Japão, 1933). Direção e Rot. Original: Mikio Naruse. Fotografia: Sutekarô Inokai. Dir. de arte: Tatsuo Hamada. Cenografia: Kojirô Kawasaki & Matasaburo Okuno. Figurinos: Tose Tanaka. Com: Mitsuke Yoshikawa, Sumiko Mizukubo, Akio Isono, Reikichi Kawamura, Ryuko Fuji, Yôko Fujita, Tomio Aoki, Chôko Iida.

Kikue (Yoshikawa) é gueixa para sustentar Yoshio (Isono), seu filho, que prefere cabular as aulas e ficar deitado ao léu ou sair com seus amigos arruaceiros. Um colega seu vai a casa dele e conta que ele não tem aparecido pela escola para Kikue. Shôkiku (Mizukubo), tida por Kikue, como tendo uma amizade fraternal, preocupa-se com ele. Shôkiku nutre por Yoshio algo além do amor fraternal e vice-versa. Ela o alerta para a ótima mãe que possui e que ela não gosta do trabalho que faz. Quando Kikue se excede brigando com o homem que a sustenta, Yoshio e Shôkiku velam por ela. Yoshio decide deixar o grupo de arruaceiros e é espancado e humilhado diante de Shôkiku. Quando falam de sua mãe, no entanto, ele não se controla e tenta ferir um deles com uma faca. A faca é tomada por alguém do grupo e quem acaba ferida é Shôkiku. Após um tempo de convalescença no hospital, Shôkiku parte para cuidar de uma irmã e deixa um choroso Yoshio na estação.

O drama da figura provedora feminina em relação ao irmão, amante, ou filho bastante habitual na cinematografia japonesa do período, parece se anunciar desde a mais tenra compreensão do que se sucede. Da mesma forma que ocorre a câmera se aproximar para ressaltar a surpresa de Kikue quando fica sabendo que Yoshio não tem frequentado a escola, o movimento inverso se dá para ressaltar um maior alívio da tensão – ao menos para consumo externo – que faz com que ela afirme que logo ficará bem a situação dele. A configuração não é apenas de pobreza, pois essa se encontra em outras produções do período de forma mais digna, mas igualmente de opressão social, representado fumaça que jorra incessante de várias chaminés que circundam e são observadas na linha do horizonte e o ambiente um tanto inóspito, antecipando algo de similar do cinema britânico em pelo menos 3 décadas (o ciclo de filmes que ficou conhecido como kitchen sink). Destaque para a meia furada masculina que é reposta por uma mulher, praticamente um arquétipo da produção da época, presente em filmes de realizadores diversos. Mesmo que a mulher provedora de um personagem masculino seja o mais usual, e aqui exista duas figuras que a caracterizam – com Shôkiku evidentemente reproduzindo a mãe – existe todo tipo de variação em relação ao auto-sacrifício, já que  ao final ela parte para se sacrificar para que uma irmã sua “permaneça pura”. Portanto, como a maior parte dos filmes do período se termina com um final ambíguo, mais uma promessa do que propriamente uma concretização, e quando Shôkiku afirma que será capaz de fazer qualquer coisa pela pureza da irmã, imagina-se que se encontra em seu horizonte de possibilidades se tornar uma gueixa, aproximando-a ainda mais da imagem materna. A escalação de Akio Isono parece não ter sido muito feliz e compromete a tentativa de concretização de um pathos  que aqui se encontra longe do efeito conseguido por outras produções da época. A habitual coadjuvante em papéis de caracterização Chôko Iida, bastante presente na produção da época, é aqui subaproveitada. Shochiku Co. 61 minutos.

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