Filme do Dia: O Leão da Estrela (1947), Arthur Duarte

 
O Leão da Estrela (Portugal, 1947). Direção: Arthur Duarte. Rot. Adaptado: Ernesto Rodrigues, Felix Bermudes & João Rodrigues, baseado nos poemas do último. Fotografia: Aquilino Mendes & João Silva. Música: Jaime Mendes. Montagem: António Martins. Dir. de arte: Fernando Fragoso. Cenografia: Amílcar de Oliveira & Pierre Schild.  Com: António Silva, Milú, Maria Eugénia, Erico Braga, Laura Alves, Curado Ribeiro, Maria Olguim, Cremilda de Oliveira, Tony D´Algy, Arthur Agostinho.
Anástacio (Silva) é um torcedor fanático pelo Sporting que quer assistir um jogo de futebol no Porto. Dada a impossibilidade de conseguir passagens para a cidade, ele entra em um arranjo com o motorista (Agostinho) de sua criada (Alves). Também leva toda sua família e se hospeda na mansão dos Barata, família endinheirada local, fingindo se tratarem de pessoas ricas, fazendo uso do carro luxuoso do motorista da criada e das malas de um comandante da marinha vizinho (D´Algy). O filho dos Barata, Eduardo, apaixona-se por Juju (Milú), que conta a ele toda a verdade. A farsa, para efeito dos pais de Barata é mantida até o final, sendo a casa do Comandante que faz as vezes da residência dos humildes pais de Juju, Anastácio  e Carlota (Olguim).

Duarte, mesmo enveredando pela trilha da farsa habitual e com elenco bastante próximo de seus dois filmes imediatamente anteriores, apresenta algumas novidades nesse filme. Trata-se da compressão de tempo que acompanha boa parte da narrativa, ao menos até algum tempo depois do final do jogo. Outra característica que o diferencia é a ausência das “revelações” e seu posterior efeito de tensão dramática conseqüente, bastante batido. A “ilusão” vence aqui e mesmo quando a namorada revela a seu amado toda a farsa isso passa praticamente despercebido na trama. Ao inovar a narrativa acabou sacrificando subtramas, como a do motorista e da criada, que praticamente é abandonada e arrefecendo visivelmente traços do personagem principal que já não mais interessavam tanto, como o do seu fanatismo pelo futebol vivido por António Silva, demonstrando serem estes menos um fim do que meio da narrativa avançar. Silva, provavelmente o ator mais popular do país então, vive sempre o mesmo personagem atrapalhado mais sagaz em se sair de improviso de situações difíceis, de seus filmes anteriores.  Porém, se algo parece truncado, o filme no geral ganha com a economia em relação a redundância de seus filmes anteriores.  Economia de momentos líricos, aqui praticamente restritos a um breve trecho de cantoria do rapaz com as duas irmãs e também de exposição de cenas por demais clichês, como a do casamento ou do anúncio do casamento da segunda filha, sendo o espectador poupado tanto do pedido de casamento quanto da comunicação aos pais, apelando na segunda situação para um engenhoso fechar de portas que sela igualmente o final do filme. Ainda assim, sobram sequencias que não dizem exatamente a que vieram, pois não funcionam nem isoladamente nem tampouco provocam efeito no filme como um todo, como é o caso da noitada de farra que o anfitrião leva Anastácio. É talvez o filme  de Duarte mais popular em Portugal.  Tóbis Portuguesa para Imperial Filmes. 121 minutos.

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