Filme do Dia: Moça com Brinco de Pérola (2003), Peter Webber
Moça com Brinco de Pérola (Girl with a Pearl Earring, Reino Unido/Luxemburgo, 2003). Direção:
Peter Webber. Rot. Adaptado: Olivia Heetreed, baseado no romance de Tracy
Chevalier. Fotografia: Eduardo Serra. Música: Alexandre Desplat. Montagem: Kate
Evans. Dir. de arte: Ben Van Os & Christina Schaffer. Cenografia:
Todd Van Hulzen. Figurinos: Dien van Straalen. Com: Colin Firth, Scarlett
Johansson, Tom Wilkinson, Judy Parfitt, Cilian Murphy, Essie Davis, Joanna
Scanlan, Alakina Mann.
Griet (Johansson) é admitida como
criada na residência do pintor holandês Jan Vermeer (Firth). Sua sensibilidade
fica tocada de imediato pelas obras do mestre e esse retrata-a com os brincos
da esposa em um de seus mais famosos quadros, o que provoca os ciúmes de sua
filha Catharina (Davis), a ira de sua esposa e o despeito do colecionador de
arte Van Ruijven (Wilkinson), que tentou possuir Griet de todos os modos. Griet
é despedida da residência de Vermeer e a cozinheira Tanneke (Scanlan), envia-lhe
os brincos que foram o motivo de toda a celeuma.
Com uma exuberante direção de arte e
fotografia, além de uma interpretação muito sensível de Johansson, o filme é
uma obra grandemente acadêmica e devedora de sua origem literária. A narrativa
constrói uma improvável criada analfabeta com uma sensibilidade estética a ponto
de se tornar colaboradora próxima de Vermeer como motivo maior de identificação
do público com a heroína, que se destaca da reles vulgaridade de suas
companheiras de trabalho – para exemplificar tal efeito nada melhor que a cena
na qual uma sensível Griet observa os matizes diferenciados que compõe as
nuvens e se torna motivo de pilhéria da cozinheira que acredita que ela não
para de pensar “em seu açougueiro”. Como a Escrava Isaura de Guimarães, ela é
digna de nossa compaixão por ser um ser “híbrido”, algo como uma criada com
alma burguesa. Numa Holanda seiscentista na qual todos falam em inglês, o filme
reproduz, para o bem e para o mal, a lógica dos heróis e vilões próxima dos
padrões vitorianos e é prejudicado pela canastrice de Firth, que encarna um
Vermeer que é a própria estereotipia do gênio romântico avant la lettre. Quanto à criatividade de se imaginar toda uma
narrativa a partir de um quadro, tal glória pertence ao romance e não ao
filme. Archer Street
Productions/DeLux Productions/Film Fund Luxembourg/Pathé Pictures Lmtd./UK Film
Council/Wild Bear Films. 95
minutos.
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