Filme do Dia: O Amor Que Não Morreu (1949), Raffaello Matarazzo


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O Amor Que não Morreu (Catene, Itália, 1949). Direção: Raffaello Matarazzo. Rot. Original: Aldo De Benedetti & Nicola Manzoni, a partir do argumento de Libero Bovio & Gaspare Di Maio. Fotografia: Carlo Montuori. Música: Gino Campase. Montagem: Mario Serandrei. Dir. de arte: Ottavio Scotti. Cenografia: Gino Brosio. Com: Yvonne Sanson, Amedeo Nazzari, Aldo Nicodemi, Teresa Franchini, Aldo Silvani, Gianfranco Magalotti, Rosalia Randazzo, Roberto Murolo.

Nápoles. Rosa (Sanson) vive uma vida tranquila com o marido mecânico Guglielmo (Nazzari) e os filhos Tonino (Magalotti) e Angela (Randazzo), assim como a mãe dele, Anna (Franchini) até o dia em que uma dupla de criminosos vai buscar consertar o carro na oficina de Guglielmo. Um dos homens fora noivo de Rosa, Emilio (Nicodemi). Todos os comparsas do grupo são presos menos Emilio e Rosa não o delata. Ele, no entanto, passa a persegui-la e chantagea-la, dizendo-se ainda fortemente apaixonado por ela.  Tonino percebe, num almoço conjunto, que a mãe se encontra de mão dada com Emilio e passa a agir de forma estranha em casa. Emilio se torna sócio de Guglielmo, a contragosto de Rosa. Certo dia, no entanto, Emilio fala  ao futuro sócio que partirá para a Venezuela  na manhã seguinte e que o projeto de se tornarem sócios fica cancelado. No dia seguinte, a filha corre para o pai e diz que Tonino discutira com a mãe, pois essa recebera uma carta de Emilio a intimando a partir com ele ou ele contaria tudo ao marido. Essa vai ao encontro dele. O pai chega em casa e quando a filha comenta a respeito da carta que a mãe recebera e chorara, encontra a carta e vai até o hotel onde Emilio se encontra hospedado. Esse tenta forçar o afeto de Rosa, sendo os dois flagrados no momento por Guglielmo, que põe Rosa para fora do quarto. Um tiro é ouvido. Guglielmo mata Emilio. Ele foge para os Estados Unidos deixando expressas recomendações à mãe para que Rosa nunca mais ponha os pés na casa da família. Os filhos sofrem com a ausência dos pais. Rosa sofre na solidão de uma moradia compartilhada. Guglielmo sofre na condição de imigrante e distante do céu napolitano e de sua família. A polícia descobre que ele entrara com passaporte falsificado e é extraditado. Para o julgamento, o advogado (Silvani) induz Rosa a mentir, dizendo-se amante de Emilio, para Guglielmo ter sua pena, que poderia ser de trinta anos, atenuada. A estratégia funciona e ele não pega sequer um dia a mais na prisão. O advogado o convoca para dizer que sua liberdade se deve única e exclusivamente a Rosa. Guglielmo vai ao local onde mora e a encontra prestes a se suicidar. O casal volta ao lar e reencontra feliz a família.

Matarazzo, cineasta italiano do período talvez mais fiel ao gênero melodramático o demonstra nessa produção, que não deixa de seguir interessante tantas décadas após, mesmo com todos os seus excessos. Talvez mais interessante de tudo seja a partilha sísmica entre um ponto de vista mais próximo da protagonista feminina, cúmplice de seu sofrimento e injustiça mas que, em última instância, apenas referenda o machismo da sociedade italiana de então. Não apenas Rosa precisa sacrificar sua própria integridade e ser vilipendiada socialmente para “salvar” o marido como a Justiça, mais atenta evidentemente às leis do melodrama (e socialmente, do referido machismo) que a da investigação criminal e os fatos particulares associados ao momento do crime, julgam tendo como base única o fato de Rosa ter ou não ter traído o marido. Ao mesmo tempo o filme não deixa de acenar, algo sub-repticiamente – e nem tanto assim, sobretudo no momento em que Rosa segura a mão de Emilio por baixo da mesa – para o fato de Emilio se encontrar algo certo em sua convicção de que a vida de Rosa era equilibrada mais igualmente destituída de paixão. E a tensão de Rosa parece, a determinado momento, ser menos a do marido saber quem de fato se trata o novo sócio que a do amor devotado a família e o desejo mais plenamente sexuado que ainda parece sentir por Emilio. O final, com toda a família até um dia atrás ressentida voltando às boas somente por conta de um único e exclusivo motivo, o fato da mãe/mulher/nora não ter traído seus filhos/marido/sogra parece quase uma caricatura de final feliz tão explicitamente hipócrita quanto a que Buñuel fará questão de expor em seu irônico melodrama mexicano Susana (1951). Destaque para o maravilhoso ator de caracterizações Silvani, recorrente na produção dos anos 1940 e 1950 (notadamente em Noites de Cabíria) e para a relativamente bem sucedida dupla infantil (que como vários atores mirins não iria além de duas ou três produções) às expensas do modo piegas com que são utilizados. O enorme sucesso comercial dessa produção levou Matarazzo a empreender seguidos melodramas, sendo ao menos dois desses com a dupla Sanson-Nazzari novamente (Tormento e Os Filhos de Ninguém).  Labor Film/Titanus para Titanus. 86 minutos.

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