Filme do Dia: Sobre Susan Sontag (2014), Nancy D.Kates
Sobre
Susan Sontag (Regarding Susan Sontag, EUA, 2014). Direção: Nancy D. Kates. Rot. Original: Nancy
D. Kates & John Haptas. Fotografia: Sophia E. Constantinou. Montagem: John
Haptas.
Documentário
que, dentro dos limites de um produto produzido para a televisão, pretende
fazer uma espécie de história intimista sobre uma das mais charmosas
personalidades do mundo intelectual norte-americano da segunda metade do século
XX. Sontag surge em entrevistas de arquivo, em depoimentos de pessoas próximas,
amigos & amantes, assim como seu filho. Sua curiosidade “promíscua” por
querer tudo conhecer, seus três cânceres, o último deles fatal, sua preocupação
com o excesso de imagens e a tendência a banalização de tudo o que
apresentam, suas visitas a regiões de
guerra (no Vietnã, recebendo flores do governo comunista), sua dolorosa
separação do primeiro marido após a estadia na França, o alívio de deixar de
usar o seu nome de nascimento, Rosenblatt, explicitamente judeu, substituído
por Sontag, sobrenome de um novo companheiro da mãe, sua postura firme de contraposição ao
discurso defendido pelo status quo logo após os atentados ao WTC em um
bate-boca ao vivo na TV. Seu comportamento, enfim, da profissional intelectual que
tem que se posicionar diante do que ocorre no mundo, mantendo a distância sua
vida privada e seus diversos envolvimentos, sobretudo com mulheres, devidamente discriminados pelo
documentário, o último deles com a fotógrafa Annie Leibovitz. Seu feminismo desenraizado. Seu temor, ao
final da vida, da transitoriedade da mesma e do gradual apagamento de si própria
e dos rastros que deixara pela Terra e sua convicção de ser a ficção narrativa
a única que perdura, gênero que ensaia algumas publicações em sua fase final,
distantes de terem caído no agrado completo da crítica. Longe de ser destituído
de interesse, tampouco evita saídas estéticas algo espúrias, não muito distantes
inclusive do camp que Sontag
pioneiramente abordou, como a da sua irritante e quase onipresente trilha
sonora. Trata-se, a seu modo, de uma hagiografia, porém uma hagiografia que
parte de um ponto de vista íntimo da própria Sontag, guiado sobretudo pelo que
foi escrito em seus diários (com narração de Patricia Clarkson) ao longo de boa
parte de sua vida. Uma das poucas surpresas para os que não são demasiado
versados em Sontag para além de seus ensaios mais célebres é a descoberta
igualmente da existência de um Sontag cineasta bissexta, lembrada aqui por sua
experimental produção sueca movida por sua admiração por Bergman e realizada
pouco após Persona, embora com um
estilo de produção bastante peculiar em
Dueto para Canibais (1969) ou o documentário que realizou em Israel após a
Guerra Árabe-Israelense de 1973. E, tão ou mais surpreendente talvez, sua
participação como extra em uma produção dos idos da Nouvelle Vague, quando
morava em Paris. As poucas vozes que não se dobram completamente a mera
descrição “neutra” de seus contatos com Sontag ou dos elogios irrestritos são
os de sua irmã, que afirma que quando indagada se havia algo a ser dito com
relação ao que ela deixara a desejar, a irmã retruca posteriormente que diz
respeito a ela nunca ter sido honesta com ela a respeito de si própria e não ter
comparecido ao seu casamento e uma ex-amante que afirma que quando ela se
encontrava com personalidades nunca a apresentava às mesmas, deixando-a
deslocada e sem graça, complementando com a afirmação de ser ela incapaz de ter
uma percepção sensível do outro, de não ser uma pessoa sensível. Question Why Films. 100 minutos.
Não conheço. Verei se encontro no Youtube.
ResponderExcluircaso não encontre o torrente dele está disponível em alguns sites. Não lembro agora se o baixei do Making Off, mas acredito que sim.
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