Filme do Dia: Paulinho da Viola - Meu Tempo é Hoje (2003), Izabel Jaguaribe
Paulinho
da Viola – Meu Tempo é Hoje (Brasil, 2003). Direção: Izabel Jaguaribe. Rot.
Original: Izabel Jaguribe, Joana Ventura & Zuenir Ventura. Fotografia:
Flávio Zangrandi. Montagem: Izabel Jaguaribe & Joana Ventura. Dir. de arte:
Kiti Duarte.
Esse delicioso
documentário, embora visualmente apresente um estilo muito próximo de outras
produções da Vídeofilmes – sua aproximação de Nelson Freire, ao tentar
uma visão intimista do artista e sua cenografia e iluminação em estúdio para
apresentação de algumas composições é devedora de um estilo que remonta ao Circuladô
de Caetano Veloso – acaba conseguindo reproduzir com sensibilidade o universo
do artista. Nesse sentido aborda brevemente desde suas influências históricas
em termos de MPB (Pixinguinha, Cartola, Nélson Cavaquinho, etc.) até sua
proximidade com a velha guarda da Portela (que lhe prepara uma emocionante e
singela homenagem). Da apresentação de alguns encontros semi-informais como aquela
em um pagode na casa de Zeca Pagodinho com a presença do mesmo, Nélson Sargento
e Élton Medeiros, um de seus maiores parceiros até elementos que extrapolam
esse universo do compositor como os duetos com algumas divas de outro período e
segmento da música nacional como Marina Lima e Marisa Monte (com uma
interpretação emocionante para o clássico Carinhoso). Pode até ser
questionada, dentro da proposta do documentário, qual o propósito dos duetos
com as duas cantoras (principalmente Lima, já que Monte gravou composições do
cantor e participou de shows com ele), mas o resultado final, pelo menos no que
diz respeito a segunda, é formidável. Por outro lado, quando procura em outro
plano apresentar a intimidade familiar do cantor, em si mesmo uma opção muito mais orgânica com
o projeto, o resultado, com raras exceções – como o momento em que Paulinho
acompanha o pai e o filho - é pouco estimulante. Também apresenta algumas
paixões do músico em seus momentos de ócio (que Paulinho reconhece como de
fundamental importância e se considera um privilegiado por poder usa-lo
criativamente, como todos gostariam de faze-lo) como a marcenaria ou a
reconstrução de carros antigos, assim como a sinuca. Embora faça uso bem
restrito de imagens de arquivo, apresenta um trecho de uma gravação de Paulinho
com Marisa Monte e Rafael Rabello. No cerne de sua obra a sua relação com o
tempo, resumida na máxima, extraída de um velho samba, que afirma que ele não
vive o passado, mas o passado vive nele. Até mesmo algumas soluções que podem
soar forçosas, como a presença constrangida de Paulinho em alguns dos lugares
que lhe provocam muitas memórias, acabam se tornando involuntariamente
graciosas e a seleção de mais de trinta clássicos do compositor e da MPB são o
ponto forte desse belo tributo. Videofilmes. 83 minutos.
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