Filme do Dia: I Am Patrick Swayze (2019), Adrian Buitenhuis

 


I Am Patrick Swayze (EUA, 2019). Direção e Rot. Original Adrian Buitenhuis. Fotografia Philip Lanyon & Shaun Lawless. Música Matt Dauncey & Ryan Enockson. Montagem Tony Kent. Dir. de arte Derik Murray. Maquiagem Teresa Aguillera.

O que mais espanta, ou até mesmo assusta, diante de um pacote tão já preconcebido dentro de modelos estáveis de representação biográfica de celebridades que este documentário parece se encontrar inserido, é ainda se descobrir que segue praticamente uma série de perfis muito próximos (I Am Heath Ledger, I Am Paul Walker, I Am Burt Reynolds), todos dirigidos ou co-dirigidos por Buitenhuis, a partir de astros mortos relativamente recentes em relação ao momento da produção dos mesmos, e como se estivessem se apresentando a partir da forte carga simbólica trazida por seus títulos, e se apresentando enquanto vivos (I Am). E, claro, todos homens. Não que se pedisse que todos documentários sobre celebridades seguissem um caminho diverso e original, dentro dos limites do gênero (ou até mesmo fora dele) como faz As Últimas Estrelas do Cinema, embora seja um tanto cansativo, não sendo um irremediável fã dos retratados, ou até mesmo sendo, assistir-se ao modelo em questão, de uma eulogia criada a partir de uma história segura – até nisso o documentário de Ethan Hawke parece ser um ponto fora da curva, pois não fecha em motivações únicas ou simplistas, ou mesmo busca uma motivação para o alcoolismo de Paul Newman; e, tocando no assunto, os problemas com o álcool de Swayze quase são varridos para baixo do tapete, não fosse um comentário de Niemi já nos vinte minutos finais. Tudo neste perfil soa como dado já de bandeja por aqueles próximos (esposa, irmão, ex-colaboradores da época como Rob Lowe e C. Thomas Howell), desde seu lado macho e atleta de futebol não interferindo em ter sido um atento estudante de balé, e guiado por uma mãe amorosa mais extremamente rígida. E o mesmo valendo para sua paixão por cavalos e pela vida rural, um eu que se quis afirmar como cowboy, distante do padrão de vida de um astro hollywoodiano típico, embora não tão distante de alguns. E que não aceitou a adoção de filhos, quando se descobriu que o casal não poderia tê-los por via natural.   Mesmo com tanta padronização, dos ângulos dos entrevistados ao uso das fotos de arquivo, há momentos interessantes como o da emoção se apoderando de Lisa Niemi, sua companheira, no meio de uma descrição animada sobre o quanto os dois tinham sinergia na dança – eles se conheceram através do balé -mas sem que ela desabe por completo diante da câmera. E é interessante a fala dela sobre ver a graça de um homem viril no balé, algo pouco usual, e que esta masculinidade se encontrava nele sem grande força, com naturalidade, tal como a do próprio pai, ambas pessoas no trato habitual bastante afáveis. E vai-se descolando deste perfil biográfico mais amplo, do garoto nascido em Houston, com o pai decepcionado quando não seguiu a carreira de direito, com um início de carreira em Nova York, mas mudando-se para Los Angeles para de fato tentar a carreira no cinema, após dois comerciais para a TV (um deles apresentado) e com uma primeira aparição em A Febra dos Patins (1979). O grande divisor de águas na sua carreira que foi Vidas sem Rumo, para C. Thomas Howell um grande workshop. Imagens de bastidores emergem com comentários sobre um clima amistoso, mas também altamente competitivo. Com a fama atingida com Dirty Dancing: Ritmo Quente (1987), torna-se um verdadeiro ídolo de massa, e vem a ser entrevistado por Barbara Walters – e sua agente afirma que ele se tornou um astro não pelo filme, mas pela entrevista. O realismo da luta de Lutador de Aluguel (1989), descrita pelo opositor ao personagem de Swayze. Rob Lowe considera Ghost (1990) seu melhor filme, após e antes sua parceira Demi Moore, se derramar em elogios ao colega. Caçadores de Emoção (1991), o deixou inseguro sobre como seria a reação dos fãs ao seu primeiro papel como vilão, segundo sua agente. O fracasso de Cidade da Esperança (1992), um passo além no dramático e um filme aparentemente típico de seu realizador, Roland Joffé, o afetou. Mesmo depois da descoberta do câncer de pâncreas que rapidamente o matou, Swayze continuou trabalhado, como testemunha a série para TV The Beast. Veio então travestido em Para Wong Foo, Obrigada por Tudo! Julie Newmar.  E Rob Lowe desejava muito o papel e achava que tinha a seu favor o fato de ter uma beleza considerada “feminina”. Leva fama de bom moço, e ao mesmo tempo de continuar sendo notícia, até o limite de sua saúde, participando de um evento para arrecadação de fundos para o câncer e se identificando como uma. Conta ainda com depoimentos de Sam Elliott, Kelly Lynch, Roland Joffé, Jennifer Gray, dentre outros. Lynch é a mais surpreendente para quem não conheceu ela além de Drugstore Cowboy, pois parece tão distante da persona que criou para este e o filme feito com Swayze. Dando-se ao direito de se emocionar, inclusive, ao falar sobre sua morte.  Sobre Amanhecer Violento apenas um still a ilustrar o comentário de alguém. Voltando ao título destas produções, elas nos fazem suscitar um documentário narrado em primeira pessoa (tal como Imagine: John Lennon e, mais próximo deste em termos temporais e categoria artística, Eu Sou Ingrid Bergman e,  a partir de transcrições de seus áudios, Newman e Woodward em As Últimas Estrelas do Cinema), mas há relativamente pouco do próprio Swayze falando sobre si. E sim o que se fala sobre ele, o que se poderia aplicar o golpe de toda individualidade ser construída socialmente. |Network Ent. 80 minutos.

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