Filme do Dia: Caixa Preta (2008), M.M. Izidoro

 


Caixa Preta (Brasil, 2008). Direção: M.M. Izidoro. Rot.Original: Marcos DeBrito & André Gevaerd. Fotografia: Rafael Martinelli. Música: André Abujamra. Montagem: André Gevaerd, M. M. Izidoro & Duda Izique. Dir. de arte: Gabriel Madeira. Figurinos: Beatriz Cifu. Com: Olair Coan, Luis Pacino, Diego Torraca, Jeyne Starkflett, Delurdes Moraes, Francisco Gaspar, Alice Guimarães, Eduardo Reyes, Paolo Gregori, André Abujamra.

Tulio (Coan) retorna após décadas à casa da família para velar os corpos do pai (Gregori), mãe (Moraes) e irmão mortos em um acidente. Tendo se afastado de sua família, conservadora e conivente com a repressão do regime militar, Tulio, quando jovem (Torraca), aceitou o convite do Tio Abner (Gaspar), para ir morar com ele e poder desenvolver seus talentos literários, nunca valorizados pela família, principalmente pela mãe. A morte da família o faz retornar ao passado, passeando pelos fantasmas e interditos de seu ser.

Dois elementos tornam essa produção praticamente um martírio de ser assistida até o final. Primeiro, a forma maniqueísta com que  contrapõe, aparentemente sem  maiores ambiguidades, contradições ou nuances, a ideologicamente “equivocada” família de Tulio em contraposição a ele próprio – por mais tormentos que esse vivencie, sua integridade permanece assegurada ao final, por mais que se vislumbre igualmente seu medo de enfrentar as demandas da fazenda familiar, associadas vagamente a uma certa feminilidade escondida com o passar do tempo pela projeção acadêmica; a determinado momento, suas irmãs fazem pilhéria dele como “mulherzinha”. Depois, e talvez bem mais importante, a própria forma como Izidoro resolveu estruturar sua história, a partir de uma estética próxima da teatral, com cenários escuros, despojados e de forte carga simbólica, aproximando-se por esse viés de produções como Dogville, assim como a mescla entre realidade e fantasia enquanto representação da própria subjetividade do protagonista. Para efeitos comparativos, basta se pensar o que uma família com sequelas semelhantes rendeu em um filme como Lavoura Arcaica. Aqui, a sombra do pretensioso parece condenar o projeto, ambicioso em potência, a um certo humor involuntário, pela falta de solo concreto. Tudo não parece ir além do que de fato é, um exercício afetado de dramaturgia, algo que num filme como o de Von Trier, por exemplo, torna-se somente um passaporte para uma determinado meio social de perfil histórico bem demarcado. E personagens outros que não o protoganista são demasiado chapados, enquanto inclusive possibilidade de representação do próprio imaginário do protagonista. Kinoosfera Filmes/Marluco Visão. 71 minutos.

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