Filme do Dia: Bethânia Bem de Perto - A Propósito de um Show (1966), Júlio Bressane

 


Bethânia Bem de Perto – A Propósito de um Show (Brasil, 1966). Direção, Rot. Original, Fotografia e Montagem Julio Bressane & Eduardo Escorel.

Logo ao início deste documentário que acompanha Bethânia pelos bastidores de seu espetáculo – daí o título – se observa a fila de futuros espectadores também “bem de perto”, com uma câmera que mais parece conseguir ser mais um deles, numa dimensão táctil a ser aprofundada posteriormente em filmes ficcionais como o prólogo de A Lira do Delírio. E não apenas de bastidores, com imagens de Bethânia, sozinha, em meio a escuridão do palco, a cantar, qual uma figura espectral. Caetano, com visual mais rapazinho e jovem que a irmã, mais nova, surge nos camarins e acompanhando Bethânia e Anecy Rocha ao táxi. No violão de Bethânia inusitadamente estão colados diversos retratos recortados, aparentemente de personalidades do mundo musical, dela própria e de próximos. É o momento no qual toca, em ritmo bem mais lento e pausado, um dos clássicos de São João, referência trazida da infância, cantada por Dona Canô para ela. Somente após muito passear pelo violão e suas mãos é observada Bethânia  cantando. Quando ouvimos pela primeira vez a voz de Bressane é a indagar sobre Roberto Carlos (aparentando um interesse já, observado como momento importante de seu Matou a Família e Foi ao Cinema, de quatro anos após), Bethânia reage abusadamente, afirmando “não conhecer o rapaz”, até quebrar o gelo depois.  E, ainda afirma, marota e sorridente depreciativamente sobre a música dele (“Eu acho a música uma pobreza”), afirmação sobre um compositor ao qual gravará versões com novos arranjos para um disco só de composições dele, décadas após. Irritação assomada também com relação às mudanças que pede no andamento de algumas músicas, que vinham sendo executadas de forma diversa até então. Após um ano cantando Carcará, Bethânia afirma querer cantar outras coisas, mas é com esta principalmente que é identificada pelo público da época, a pedir sempre a canção, e que Bethânia confidencia que cantará na última apresentação do espetáculo. Bethânia conversa com amigos sobre notícias a respeito dela própria nos jornais, ao som de Billie Holiday. Um dos convidados pede desculpas, aparentemente após trombar com a equipe, enquanto carregava bebida e copos numa bandeja. Jards Macalé mostra uma composição sua para Bethânia, que a elogia. Betânia faz sua própria maquiagem. Um dos bons momentos visuais é a câmera inquieta, correspondente a inquietação do grupo presente no apartamento de Bethânia, e do qual Caetano faz parte.  E também o momento em que acompahamos ela e amigos indo a um bar ao som de Prá Dizer Adeus, de Edu Lobo, na voz de Bethânia. Ou observando pássaros numa gaiola com amigos, dentre eles mais uma vez Macalé.  O curta sobre a cantora surge no mesmo momento em que se tornava comum tal tipo de produção em relação aos ídolos anglo-saxões (a exemplo de Don’t Look Now, sobre Dylan ou Lonely Boy, sobre Paul Anka). Cópia cujo restauro contou com particpação de Jordana Berg. Versão restaurada trinta anos após o curta original, com o triplo de metragem. |33 minutos.

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