Filme do Dia: O Vingador Silencioso (1968), Sergio Corbucci
O Vingador
Silencioso (Il Grande Silenzio, Itália/França, 1968). Direção Sergio
Corbucci. Rot. Original Vittoriano Petrilli, Mario Amendola, Bruno Corbucci
& Sergio Corbucci. Fotografia Silvano Ippoliti. Música Ennio Morricone.
Montagem Amadeo Salfa. Dir. de arte Riccardo Domenici. Figurinos Enrico Job.
Com Jean-Louis Trintignant, Klaus Kinski, Frank Wolff, Vonetta McGee , Luigi
Pistilli, Mario Brega, Carlo D’Angelo,
Marisa Merlini, Maria Mizar.
Utah, final
do século XIX. Um grupo de criminosos se esconde em um bosque, esperando por
uma anistia de seus crimes. O caçador de recompensas Loco (Kinski) é o
assassino mais violento deste perfil. E uma de suas vítimas vem a ser o marido
de Pauline (McGee), que contrata o mudo conhecido como Silenzio (Trintignant),
ele próprio interessado em vingar crimes associados ao seu passado, e a ter se
tornado mudo, para vinga-lo. Um novo xerife é designado com o objetivo de dar
um fim aos assassinos de aluguel, Corbett (Wolff), mas passa por apuros ao ter
seu próprio cavalo roubado quando se aproximava da cidade.
Assistir uma
versão alemã desta produção ítalo-francesa (e a primeira nacionalidade vem na
frente, em oposto a forma como se grafa normalmente não por acaso, já que faz
parte do filão do western-spaghetti) com atores alemães (inclusive um Kinski
pré-Herzog) e que transforma florestas nevadas do Tirol italiano no Utah e,
além disso tudo, dublada em espanhol não é para qualquer um. E o que mais salta
aos olhos, antes mesmo que nos situemos minimamente sobre o que ocorre, é a
extrema rapidez com que a ecologia deste tipo de produção, de forma muito
semelhante ao que ocorre, por exemplo, com os filmes de terror britânicos, já
diz tão ou mais que os cacoetes dos próprios gêneros. Não falta um flashback,
algo modernisticamente seco, no qual observamos a origem da mudez de Gordon,
assim como de sua revolta, forças motrizes para o que assistimos – não à toa o
título original abraça um ramo do trauma e o brasileiro ambos, embora tendendo
a enfatizar o caráter vingativo. O zoom então se encontrava vivenciando
o auge de seu uso pelo cinema – e não apenas o mais obviamente comercial, como
este, como demonstra Morte em Veneza, pouco após – e não
raras vezes ele é quem comanda o início de uma nova sequência. Inicialmente se poderia imaginar que a trilha assinada por Morricone se encontraria uma escala acima do restante, porém a quantidade de exceções, da interpretação muda de Trintignant, partindo de um modelo de ator que já se enecontrava disposto a fazê-lo repetidamente, Clint Eastwood, e também de Franco Nero (do pioneiro Django) e do uso do rosto e das marcas deste, demonstrarem serem mais regra que o oposto. E o mesmo vale para a onipresença da neve, e o excelente partido a se tirar dela, em mais de um sentido (composição visual, mas igualmente obstáculo real às empreitadas equinas dos personagens). E o inesperado anti-clímax final, que apresenta
um Velho Oeste já não tão prendado a códigos de ética mesmo entre assassinos –
Gordon recebe um primeiro tiro de um capanga de Loco de forma completamente
covarde (mas não era igualmente covarde o procedimento deste e de seu bando
observado a granel anteriormente, e também na morte do xerife que lhe havia
salvo a vida?). O maior mérito do filme, para além da reconhecida expertise de
Corbucci – e é um desperdício de talento que ele tenha de participar de
produções avacalhadas, após o esgotamento relativamente breve do
western-spaghetti – se trata do jogo bem urdido com as limitações das regras do
gênero; elas estão todas lá, mas dentro delas se observa um xerife que aparentemente
será trazido apenas como instrumental para o riso, mas que depois demonstra sua
seriedade, assertividade e respeito entre os envolvidos e um herói que apesar
de toda sua virtuosidade no manejo da arma, não é inabalável, como seu final
mcbethiano atesta, com apenas um dos personagens, entre principais e
coadjuvantes, vivo. |Adelphia Compagnia Cinematografica/Les Films Corona. 101
minutos.
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