Filme do Dia: Kneecap - Música e Liberdade (2024), Rich Peppiatt

 


Kneecap – Música e Liberdade (Kneecap, Irlanda/Reino Unido, 2024). Direção Rich Peppiatt. Rot. Original Peppiatt, a partir do argumento Móglaí Bap, Mo Chara & DJ Próvai. Fotografia Ryan Kernaghan. Música Michael “Mikey J” Asante. Montagem Chris Gill & Julian Ulrichs. Dir. de arte Nicola Moroney & Francis Taaffe. Figurinos Zjena Glamocanin. Maquiagem e Cabelos Liz Boston & Shaia Hassay. Com Móglaí Bap, Mo Chara, DJ Próvai, Josie Walker, Fionnuala Flaherty, Jessica Reynolds, Adam Best, Simone Kirby, Michael Fassbender.

Móglaí Bap (Bap) consegue fugir da polícia em uma manifestação apoiando Manifesto da Língua Irlandesa, tendo pichado um ônibus com palavras em irlandês. A mesma sorte não teve seu amigo, Mo Chara (Chara), preso e se recusando a falar uma palavra em inglês. A manifestação se deu nos subúrbios de Belfast, Irlanda do Norte. Quando crianças, os dois aprenderam a falar irlandês do pai de Móglaí, Arlo (Fassbender), militante republicano que forjou sua morte para escapar das autoridades britânicas. A mãe de Móglaí, Dolores (Kirby) tornou-se reclusa, após o desaparecimento do marido. Quando da prisão de Mo, o professor de música J.J. (Próvai) é chamado como intérprete. Ele casualmente tem acesso ao diário do garoto e uma proximidade se forja entre ele e Móglaí, resultando em gravações clandestinas da banda, batizada como Kneecap, que passa a ganhar notoriedade, polêmica e irritação por parte dos conservadores britânicos.

Se a Irlanda foi sempre considerada como um celeiro de criatividade artística, as apostas anteriores em termos de arqueologia ficcional de um grupo (Apenas uma Vez, Sing Street) passavam pela música como oportunidade de valorização social de setores marginalizados ao que, em alguma medida, agora soma-se a esta fórmula a incisiva querela política com a Inglaterra.  E também o caráter pseudocumental da empreitada, com os garotos e o dj vivendo aparentemente “a si próprios” e um início com bastante bossa fílmica – daquelas que tendem a ficar tão datadas quanto algumas utilizadas no passado, haja vista alguns cacoetes de A Hard Day’s Night, para ficar em um exemplo. E põe na mistura a cultura das drogas. A questão da cultura nacional se vê representada pelas canções, cantadas em irlandês, idioma praticado por apenas 20 mil habitantes na região em que moram, e devidamente traduzida ao inglês através de legendas vibrantes a se movimentarem pela imagem e não os entretítulos habituais. Junte-se a tudo isso uma figura de bruxa má, representada por uma agente de polícia, sua sobrinha enroscada em uma história de amor com um dos garotos e uma mãe catatônica que revê o marido, que acreditava morto, e que vem a ser ninguém menos que Michael Fassbender. A função gráfica das letras de música não são a única intervenção sobre a imagem. Muitas outras emergem; e até mesmo uma de bonecos em stop motion do trio completamente impregnado pelo efeito da quetamina vendida como cocaína. E na cena mais violenta, faz uso do golpe baixo de transformar a dor em prazer, imaginando-se Mo estar sendo sexualmente seviciado pela sobrinha e não barbaramente espancado pela tia. Há limites para a imaginação e a subjetividade já nos dizia com exemplos simples e diretos uma filósofa como Agnes Heller. O zeitgeist contemporâneo pensa o contrário. De Fassbender já se abusou de sua frieza a ombrear ou abraçar de todo a psicopatia (O Assassino pouco antes deste, Código Preto pouco após); talvez o maior desafio seja apresenta-lo como vulnerável e sensível e ponto. Fine Point Films/Mother Tongues Films/Wildcard Dist./BFI/Coimisiún na Mean/Curzon Film Dist./Fís Éireann-Screen Ireland/Great Point Media/Northern Ireland/TG4. 105 minutos.



 

 

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