Filme do Dia: Mank (2020), David Fincher
Mank (EUA, 2020). Direção David
Fincher. Rot. Original Jack Fincher. Fotografia: Erik Messerschmdit. Música
Trent Reznor & Atticus Ross. Montagem Kirk Baxter. Dir. de arte Donald
Graham Burt & Dan Webster. Cenografia Jan Pascale. Figurinos
Trish Summerville. Com Gary Oldman, Amanda Seyfried, Lily Collins, Tom
Pelphrey, Arliss Howard, Tuppence Middleton, Monika Gossman, Joseph Cross, Sam
Troughton, Ferdinand Kingsley, Jamie McShane, Charles Dance.
Anos 1930.
Enquanto escreve o roteiro de Cidadão Kane, Herman J. Mankiewicz
(Oldman) se torna persona non grata do chefe do estúdio para o qual
então trabalha, Louis B. Mayer (Howard), para o qual o irmão mais jovem, Joe
(Pelphrey) se encontra em franca ascensão. Seu roteiro, que vaza para a
comunidade hollywoodiana, enquanto Mankiewicz é observado com sua afiada língua
ocasionalmente por Hollywood, chega ao conhecimento da comunidade e não apenas
seu irmão, mas também Marion Davies (Seyfried), por quem nutre algum grau de
simpatia, visita-o para pedir que não leve adiante o projeto.
Inteligência,
ou melhor, equilíbrio e engenhosidade não necessariamente significam um
passaporte ao enfado. É o que o próprio Herman Mankiewicz, muitas vezes
articulado ao seu irmão mais novo Joe, proporcionaram ao cinema em diversos
momentos. Ou, no caso aqui abordado, do clássico de Welles. Assim, o filme
apresenta o universo dos estúdios, e sobretudo da MGM, sem o exagero habitual
que ganhou quando retratado a posteriori pelo próprio cinema.
Infelizmente, e apesar disso, ganha o enfado, nessa produção de esmerada
direção de arte e fotografia em p&b, com elenco igualmente supimpa, em que
todos os coadjuvantes brilham, com destaque para Seyfried, mas Oldman triunfa.
E triunfa sem necessidade de próteses como é o caso de sua personificação de
Churchill em O Destino de uma Nação – só resta esperar que ele não se
transforme necessariamente em um novo Spencer Tracy do século XXI,
interpretando biografias a perder de vista em uma determinada fase de sua
carreira. Há na elaboração visual um que de tributo a Cidadão Kane,
porém de forma relativamente discreta. Pode ser a luz em jorro ao fundo ou um
personagem que ocupa esse lugar, enquanto outro se encontra aproximado – porém
sem querer reproduzir o irreproduzível, a imagem produzida em outra época, ou a
genialidade de Greg Tolland, o que seria perda de tempo, ainda que há figura a
ser destacada aqui seja a do roteirista. E não o irmão do realizador, tal como
muitas vezes ocorria entre os Mankiewicz, mas o pai, é quem assina o roteiro. E
há alguns recursos que se incluiria na pasta cinéfilos. Caso da marcação das
cenas com data e ambiente, tal e qual um roteiro (inclusive indicando muitos
dos quais são flashbacks) ou a beleza de fade outs em escuro conseguida.
Não vulgarizando a beleza de suas imagens, transformando cada cena em um cartão
postal, o filme nos brinda com momentos como o do encontro de Marion Davies com
Mank, verdadeira epifania visual. Nessa sequência, cada plano é um primor para
os olhos, inclusive o que observa os dois a conversar, a partir da janela do
carro estacionado, como numa antiga tela de TV. E o diálogo que a fecha é
igualmente brilhante. Ao final fica-se com a impressão que talvez o excessivo e
obsessivo controle de Fincher sobre o material tenha resultado em um filme mais
longo que o necessário. Embora há ênfase do pouco crédito que é dado ao
projeto a Mankiewicz, provavelmente o mesmo não resultaria em grande coisa nas
mãos de um diretor medíocre, seria algo de destaque nas mãos de um realizador
renomado e se tornou, em grande parte, o que se tornou, por conta do gênio de
Welles, observado apenas de relance. E, curiosamente, o roteiro não elabora com
clareza a relação de alguns personagens com a candidatura de Upton Sinclair. O
rancho em que Herman se refugiou para a escrita do roteiro é a locação para boa
parte das cenas do filme. Netflix. 111 minutos.
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