Filme do Dia: Sing Street (2016), John Carney

 


Sing Street (Irlanda/EUA/Reino Unido, 2016). Direção e Rot. Original: John Carney. Fotografia: Yaron Orbach. Montagem: Andrew Marcus & Julian Ulrichs. Dir. de arte: Alan MacDonald & Tamara Conboy. Figurinos: Tisiana Corsivieri. Com: Ferdia Walsh-Peelo, Lucy Boynton, Kelly Thornton, Maria Doyle Kennedy, Jack Reynor, Aidan Gillen, Ian Kenny, Ben Carolan, Percy Chamburuka, Mark McKenna, Don Wycherley, Marcella Plunkett.

Dublin, anos 80. Conor (Walsh-Peelo) é um adolescente, antenado como o irmão mais velho, Brendan (Reynor) nos últimos lançamentos pops. Por conta da crise econômica familiar, deve mudar de escola e vai estudar numa em que é vítima de bullying. Para se aproximar de uma garota pela qual sente atração, Raphina (Boynton) ele diz ser cantor de uma banda que precisa da participação dela no vídeo que irão gravar. E, a partir da mentira, tem que de fato criar uma banda junto ao amigo Eamon (McKenna) e outros conhecidos. O nome da banda, batizada por Eamon é Sing Street e Conor começa a fazer uso de um visual andrógino, inclusive na escola, sofrendo violência do Irmão Baxter (Wycherley), que o leva à força ao banheiro para retirar a maquiagem. Brendan é o guru e orientador dos passos a seguir. Seus pais (Kennedy e Gillen) não vivem dos melhores períodos de sua união. E quando Conor busca Raphina certo dia para uma atividade com a banda, fica sabendo que ela partiu para Londres com o namorado. Porém, certo dia ele a revê e ela conta de sua experiência frustrada na Inglaterra. Um sonho começa a emergir por parte dos dois.

Nada que não tenha sido tratado por filmes que abordam a iniciação ao mundo adulto ou fantasias adolescentes envolvendo camaradagem com os amigos e o primeiro amor é exatamente posto aqui. Ainda assim, o filme consegue trabalhar esse material com inesperado e renovado frescor que, infelizmente, não consegue se manter igual a medida que a metragem avança, concluindo com um final decepcionantemente banal. De toda forma, e para sua sorte, não descamba para as “histórias de sucesso” tipicamente americanas. A banda não vai além de ter seu reconhecimento junto à escola dos garotos e o bullying escolar, observado sobretudo inicialmente,  não deixa de ter antecedentes célebres no cinema do Reino Unido (de Se... a This is England, passando por Kes e Children), já se observou cenas similares. Ao contrário de This is England, evita-se o excessivo recorte social-histórico, sendo esse observado sobretudo através das bandas em evidência ou dos figurinos e cortes de cabelo típicos. Talvez ao se distanciar do grupo que forma a banda para se centrar na história de amor, o filme finde por perder parte de sua melhor energia e humor. Dentre os motivos que retrabalha bem, encontra-se o da fantasia de Conor ao palco, imaginando o melhor dos mundos, inclusive com eles trajando roupas impecáveis e todo um aparato de produção longe de de fato existir, assim como a entrada triunfal de Ann. A própria forma fílmica nesse momento tende a mimetizar a que seria a de um videoclipe com tema retrô como os da época. Fundamental para o filme é o carisma de seu jovem e sensível protagonista que, entre suas mutações, torna-se uma versão mirim, a determinado momento, de Robert Smith, o vocalista de The Cure. Seu final procura fugir da armadilha de apresentar um desdobramento de sucesso na carreira de Conor e Raphina, ainda que sob forma de resumo ou uma tampouco nada improvável tragédia dada a ousadia algo insana da empreitada, ficando em aberto, opção tampouco incomum. As canções originais procuram emular as bandas mais influentes do momento e não são destituídas de certo charme, sobretudo The Riddle of the Model e Drive It Like You Stole It. Provavelmente o realizador, com idade próxima a descrita pelos personagens no filme, aproveitou algo de suas memórias (assim como das de seu pai, que estudou na escola que é retratada, e a quem os créditos finais fazem questão de afirmar que hoje em dia se trata de uma instituição de perfil bastante distinto e progressista)  na composição dos mesmos e situações nas quais se envolvem, nenhuma delas – a exceção da final – verdadeiramente destoante do perfil apresentado. Dentre os destaques do bom time de coadjuvantes se encontram Marcella Plunkett, vivendo a mãe que mal consegue disfarçar o orgulho do filho (Eamon, no caso), constrangendo-o diante do restante dos garotos e a dupla que vivencia os pais de Conor, nada afetuosos e sobretudo a algo excêntrica figura do pai a discutir sobre o futuro da família logo ao início.  Cosmo Films/Distressed Films/FilmNation Ent./Film Wave/LIkely Story/PalmStar Media. 106 minutos.

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