Filme do Dia: De Olhos Bem Fechados (1999), Stanley Kubrick
De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut, EUA,1999). Direção:
Stanley Kubrick. Rot. Adaptado: Stanley Kubrick & Frederic Raphael, baseado
no romance Traumnovelle, de Arthur Schnitzler. Fotografia: Larry Smith. Música:
Jocelyn Pook. Montagem:
Nigel Galt. Dir. de arte: Leslie Tomkins, Roy Walker, John Fenner & Kevin Phipps. Cenografia: Lisa Leone &
Terry Wells. Figurinos: Marit Allen. Com: Tom Cruise, Nicole Kidman, Madison
Eginton, Jackie Sawris, Marie Richardson, Sydney Pollack, Rade Serbedzija,
Leslie Lowe, Vinessa Shaw, Todd Field, Sky Dumont.
Dr. Bill Harford (Cruise) vai com a
esposa, Alice (Kidman) a uma festa de natal na casa de seu amigo, Victor
Ziegler (Pollack). Lá ele se engraça com duas jovens, enquanto a mulher cai nos
braços do conquistador barato Sandor Szavost (Dumont). Porém o entusiasmo de
Harford é interrompido por um chamado urgente de Ziegler, que fica assustado
com um repentino princípio de overdose de uma de suas parceiras. Quando
comentam sobre a festa no dia seguinte, Alice acaba revelando inesperadamente
para o seguro Bill, que nunca demonstrou ciúmes da mulher, que havia desejado
ardentemente um marinheiro que encontrara rapidamente em um hotel que se
hospedaram, e que desde então passara a ter tórridos sonhos eróticos com o
mesmo. Profundamente abalado, Bill não consegue parar de imaginar a esposa nos
braços de seu amante imaginário. Convidado pela filha de um ex-cliente
falecido, Marie Nathanson (Richardson) a ir até o apartamento da mesma, surpreende-se
com a repentina atração de Nathanson, que afirma que não gostaria de se mudar
com o noivo para outra cidade apenas para ficar próxima a Bill. Constrangido e
surpreso, Bill sai pelas ruas e é abordado por uma prostituta. Quando se
encontra próximo de fazer sexo com ela, sua esposa lhe liga e ele desiste.
Porém não retorna de imediato para casa, preferindo ir até a boate onde
encontra o amigo Nick Nigthingale (Field), colega dos tempos de estudante de
medicina, agora pianista, em uma casa de jazz. Através deste, fica sabendo a
senha de uma sociedade secreta em que Nightingale toca a cada encontro em um
local diferente. Nightingale afirma a necessidade de ir fantasiado. Após alguns
contratempos, Bill consegue alugar uma fantasia na loja que anteriormente fora
de um cliente seu e agora pertence ao estrangeiro excêntrico Milich
(Serbedzija). Devidamente paramentado Bill chega de táxi ao castelo, onde testemunha
orgias diversas e é desmascarado quando indagado sobre a senha. Quando se
encontra próximo de ser vítima de um sacrifício frente ao grupo, uma mulher que
trabalha se oferece para ser punida em seu lugar. Não conseguindo se concentrar
no trabalho, Bill retorna à mansão da festa da noite anterior e recebe uma
mensagem que é melhor não mais continuar com perguntas. Fica sabendo através do
jornal que a mulher que resolvera ser punida foi encontrada morta por overdose,
que seu amigo pianista fora expulso da cidade às pressas e que a prostituta da
noite anterior descobrira que se encontrava com HIV. Viktor Ziegler o chama e
afirma que era um dos convidados da festa, e tenta convencê-lo que a morte da
prostituta não passou de mera coincidência e de que Nick Nightingale recebeu um
tratamento menos pesado do que merecia. Ao chegar em casa e encontrar a esposa
ao lado da máscara que usara no baile, e quando ela lhe revela sobre um sonho
erótico em uma grande mansão, onde todos faziam sexo ele chora e lhe revela
tudo. Quando vão fazer as compras de natal da filha, Helena (Eginton), fazem às
pazes com suas “traições” e Alice revela que necesssitam trepar urgentemente.
O filme procura seguir uma tradição do
cinema que é a de adaptar obras menores de literatura, que acabam conquistando
um maior destaque nas telas, terreno que o próprio Kubrick já trilhara
anteriormente como em sua adaptação de best-sellers de reputação literária nula
como O Iluminado (1981). Longe de
seus melhores filmes, realizados nas décadas de 50 e 60 como O Grande Golpe (1955), Dr. Fantástico (1964) e 2001 (1968), o filme, no entanto,
demonstra um senso de ritmo e narrativa ausentes nos dois últimos filmes do
cineasta e bem superiores a produção em voga. Aliado a isso, se percebe um
esmero técnico que vai do virtuoso enquadramento à montagem, fotografia e dir.
de arte. Talvez o maior problema seja o que acompanha todos os últimos
trabalhos do cineasta, um descompasso entre um virtuosismo técnico poucas vezes
conseguido no cinema e uma mais ingênua, pouco elaborada e tradicional
elaboração dos personagens. Se tal oposição não foi um empecilho, antes pelo
contrário, para uma obra que lidava, em termos de conteúdo, com tal aspecto,
como 2001, o mesmo não pode ser dito
de seus filmes posteriores. Nessa perspectiva as pretensões do cineasta de se
afirmar enquanto grande artista e seu conhecido perfeccionismo o dirigiram para
uma pompa visual que o identificam mais como um profissional de indiscutível
talento que como um artista realmente original. Kubrick faleceu quatro dias
após a finalização da produção. Entre os filmes que aparecem na televisão se
encontram um desenho de Pernalonga e um filme obscuro dirigido por Paul Mazursky, ambos também produzidos pela Warner. O cineasta também faz inúmeras
referências cinematográficas, inclusive a filmes seus como O Iluminado e aparece numa ponta, no momento em que Bill encontra o
amigo Nick na casa noturna. Hobby Films/ Pole Star/ Warner Bros. 159 minutos.
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