Filme do Dia: Gerry (2002), Gus Van Sant

 


Gerry (EUA/Argentina/Jordânia, 2002). Direção: Gus Van Sant. Rot. Original: Gus Van Sant, Casey Affleck & Matt Damon. Fotografia: Harry Savides. Montagem: Casey Affleck, Matt Damon & Gus Van Sant. Com: Casey Affleck, Matt Damon.

Dois amigos (Affleck e Damon) partem para o deserto. Lá acabam se perdendo  e vivendo a experiência da morte iminente, com a falta de água e alimentos para que possam se manter por mais tempo.

Esse filme de Van Sant, sem dúvida o mais radical de sua carreira, uma criação conjunta com a dupla de atores que são praticamente os únicos personagens em cena durante todo o filme, consegue levar ao limite o ocultamento sobre qualquer fato que caracterize os personagens em questão, que havia sido uma das pedras de toque do cinema moderno. Nada se sabe sobre o passado deles, sobre a real intenção que os motivou a aventura no deserto, porém tampouco se cai na armadilha, quase sempre fatal, de uma universalização sobre elementos humanos que perca o solo e o tempo concreto em que a narrativa se desenrola. A ausência de psicologismo e a bem conseguida expressão dessa experiência limítrofe, através de ruídos e de locações belas e áridas (sua variedade se refere ao fato de terem sido filmadas nos três países que produziram o filme), torna-o tocante porém distante de qualquer sentimentalismo, sendo alguns dos pontos fortes do filme, que não contém mais que uma centena de planos. Até o título se refere a uma private joke, ao qual tampouco temos acesso, em que os dois protagonistas se chamam um ao outro e também fazem uso enquanto adjetivo para suas erranças. O plano final tampouco deixa de ser emblemático de todo o caráter elíptico do filme como um todo. Destaque para o plano em que um dos personagens, inexplicavelmente sobe em uma íngreme rocha e não sabe mais como de lá descer, evocativa da literatura de Saint-Exupéry, drenada evidentemente do caráter moral e humanista que acompanhava seu Pequeno Príncipe. E talvez ainda para o modo como o impasse vem a ser resolvido, dado o extremo realismo da cena.  Os créditos ficam restritos somente ao final. Bela trilha sonora não original do compositor Arvo Pärt. Algumas das estratégias narrativas também foram utilizadas em outra produção posterior de Van Sant, Elefante (2003). Não há como não fazer menção aos dois personagens perdidos no deserto de Ouro e Maldição (1924), realizado por Erich Von Stroheim 80 anos antes e, filmado igualmente em uma das locaçõs desse filme, O Vale da Morte. Van Sant foi influenciado pelo estilo do cineasta húngaro Bela Tarr, a quem agradece nos créditos, mesmo que o resultado final, felizmente, seja bastante distinto. Altara Films/International Traders/Epsilon Motion Picturdes/My Cactus para Miramax Films. 103 minutos.

 

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