Dicionário Histórico de Cinema Sul-Americano#95: Ugo Ulive

 


ULIVE, UGO. (Uruguai, 1933-*). Um homem de teatro que adotou a Venezuela como sua casa, após um golpe militar no Uruguai, Ugo Ulive foi uma figura importante no cinema documental uruguaio e latino-americano dos anos 60. Nascido em Montevidéu, Ulive começou como ator radiofônico aos doze anos. Em 1949 começou a trabalhar como ator de teatro independente em Montevidéu. Em 1955 publicou uma nova revista sobre teatro independente e, no ano seguinte, com somente vinte e dois anos, Ulive dirigiu sua primeira peça. Tornou-se uma figura de proa no grupo teatral El Galpón, período no qual realizou um punhado de curtas, incluindo um inspirado por La Espera, de Jorge Luís Borges. Então dirigiu uma ficção de 50 minutos, Un Vintén pa'l Judas (1958-59), sobre um fracassado cantor de tango, que engana um amigo, surrupiando-lhe o dinheiro na noite de natal.

Em 1960, Ulive realizou um filme importante, Como El Uruguay no Hay, obra irônica e satírica, de somente nove minutos, mesclando ação ao vivo e animação, e introduzindo a forma estrutural da colagem para uma iniciante indústria de cinema de 16 mm, que não possuía equipamento profissional. Criticava a crise econômica e social no Uruguai, particularmente o estado dos dois partidos políticos, os Blancos e os Colorados. Com base neste filme foi convidado à Cuba, onde trabalhou para o recém-formado Instituto Cubano del Arte e Industria Cinematográfica (**). Lá co-roteirizou Las Doce Sillas (1962), de Tomás Gutierréz Aléa e chegou a dirigir um longa ficcional, Crónica Cubana (1963)***. Enquanto esteve em Cuba também dirigiu no Teatro Nacional e deu cursos na Escuela Nacional de Artes Dramáticas. Retornou ao Uruguai somente brevemente, onde colaborou com Mario Handler no filme de 36 minutos, Elecciones. Seguiu-o com Como El Uruguay no Hay, este novo filme examinando o modo pelo qual estes dois partidos políticos buscavam por votos através de um esforço de poder, mais que lidando com questões políticas e sociais reais. O filme foi banido pelo Servicio Oficial de Difusión, Radiotelevisión y Espetáculos (SODRE), e quando uma campanha contra a censura do filme fracassou, em 1967, Ulive abandonou novamente o Uruguai pela Venezuela. 

Foi convidado a trabalhar no teatro independente de Caracas, mas também se envolveu com cinema, dirigindo um documentário, Caracas, Duas o Tres Coisas (1969), que justapõe imagens filmadas com câmera na mão da cidade, com os áudios de radionovelas, transmissão de notícias e música popular, persistindo no seu estilo de colagem. Continuou a ser um personagem significativo no teatro venezuelano, ganhando o Prêmio Nacional do Teatro, em 1993, e também voltando sua mão para escrever romances. VER TAMBÉM CINEMATECA DEL TERCER MUNDO; CINEMATECA URUGUAYA.

Texto: Rist, Peter H. Historical Dictionary of South American Cinema. Plymouth: Rowman & Littlefield, 2014, pp. 573-74.



(*)  N. do E.: Falecido em 2018. ,

(**) N. do T: grafado erroneamente como Cinematográficos, no livro. 

(***) N. do E.: O IMDB data-o como de 1965.

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