Filme do Dia: Zuzu Angel (2006), Sérgio Rezende
Zuzu Angel (Brasil, 2006). Direção:
Sérgio Rezende. Rot. Original: Marcos Bernstein & Sérgio Rezende.
Fotografia: Pedro Farkas. Música: Cristóvão Bastos. Montagem: Marcelo Moraes.
Figurinos: Kika Lopes. Com: Patrícia Pillar, Daniel de Oliveira, Leandra Leal,
Regina Alves, Othon Bastos, Flávio Bauraqui, Paulo Betti, Alexandre Borges,
Ivan Cândido.
A estilista Zuzu Angel (Pillar), no
momento em que engrena uma carreira de sucesso no mundo da moda, sendo
reconhecida nos Estados Unidos, sofre com o desaparecimento do filho Stuart
(Oliveira), envolvido com uma organização que luta contra o regime militar
brasileiro no início dos anos 1970. Auxiliada pelo advogado Fraga (Borges),
Zuzu percorre as unidades do Exército e da Aeronáutica, porém sem conseguir
encontrar qualquer sinal do filho. Pouco tempo depois, ela acaba recebendo uma
carta de outro jovem que também fora preso e presenciara a agonia final de
Stuart. Após alguns anos, Zuzu é procurada por um homem disposto a denunciar a
tortura e morte comandada por um brigadeiro (Bastos) e seu subordinato fiel,
Mota (Bauraqui). Sem se deixar intimidar, Zuzu que já havia utilizado das
passarelas como denúncia, vai ao encontro de Henry Kissinger e busca apoio da
Anistia Internacional. Porém, a repressão continua a fazer suas vítimas. Sônia
(Leal), a companheira de Stuart, ao retornar do exílio, é assasinada e a melhor
amiga de Zuzu, que iria com ela para um final de semana na serra, tem o mesmo
destino. Quando recebe o relatório que confirma os crimes perpretados pelos
oficiais da Aeronáutica, também é morta.
Resende recebe um confortável apoio do
estilo visual impecável associado a Globo Filmes para suas habituais tramas
políticas confeccionadas dentro dos mais banais cacoetes visuais e narrativos.
Com um ritmo mais intenso e fotografia mais acabada que suas produções
anteriores, assim como aprimorada direção de atores, o filme se soma a uma longa lista de produções que revisitam os
anos de chumbo no Brasil se “beneficiando” de um distanciamento do tempo que
favorece o maniqueísmo fácil. Nesse sentido, a encarnação do bem é o de uma
classe média que se aventurou numa contestação que lhe custou a vida e a do mal
são as forças militares e a igreja conservadora (representada pelo discurso do
capelão da aeronáutica). Aos americanos (será coincidência que o filme seja
co-produzido por uma major norte-americana)
cabe o papel de fiéis da balança, buscando uma justiça ou neutralidade seja na
persona do membro da Anistia Internacional ou do congressista que afirma não
concordar com as idéias defendidas pelo filho de Angel, mas que se mobilizava
em favor da justiça. Não há espaço para qualquer ambigüidade ou criação maior
num escopo narrativo-visual tão já mastigado. Ainda que não faça apelo de uma
trilha-sonora por demais enfática, não faltam momentos de catarse melodramática
(como a seqüência em que Zuzu grita contra o tribunal que julga o filho morto),
de tomada de consciência (a alienada Zuzu se vê forçada a tomar uma posição
quando descobre o filho morto) e até mesmo de redenção da culpa (pouco antes de
morrer, Zuzu “reencontra” o filho que a perdoa por sua eventual falta de
atenção). Como em outras produções do gênero, existem momentos
constrangedoramente chavões para descrever os motivos da luta armada por Stuart
e Sônia diante de uma postura mais “ajuizada” ou conservadora, representada
pela mãe, que embora não compartilhe com a situação, tampouco faz algo de
prático para que a situação mude. O filme se torna involuntariamente indeciso
ao se posicionar em um primeiro momento como compartilhador sobretudo do temor
de uma mãe de ver seu filho em situação de perigo e apresentando essa posição
como a mais razoável e posteriormente abraçando igualmente a quixotesca cruzada
de uma mãe contra todo um sistema (algo semelhante ao pai de Desaparecido, de Costa-Gravas).
Ou seja, as posições políticas apenas interessam enquanto coladas ao ponto de
vista de seu protagonista e não por si mesmas. Ainda que as cartelas iniciais
sugiram um uso excessivo do habitual vampirismo com relação às imagens e
músicas desse momento cultural intenso reciclados para uma estética mais
palatável e condizente com os dias de hoje, o desenrolar do filme demonstrará
ser tal estratégia utilizada com modéstia (inclusive quando comparada a filmes
como Os Sonhadores, ambientado no
maio de 68 na França). Elke Maravilha faz uma ponta cantando para sua própria
encarnação como personagem. Costurado em flashbacks, o filme rende uma
breve homenagem inicial a Terra emTranse. Lereby Prod./Warner Bros./Globo Filmes. 108 minutos.
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