Filme do Dia: Antoine e Colette (1962), François Truffaut
Antoine e
Colette (Antoine e Colette, França, 1962). Direção: François Truffaut.
Rot. Original: François Truffaut. Fotografia: Raoul Coutard. Música: GeorgesDelerue. Montagem: Claudine Bouché. Com: Jean-Pierre Léaud, Marie-France
Pisier, François Darbon, Rosy Varte, Patrick Auffray.
Antoine Doinel (Léaud), trabalhando em uma fábrica
de discos, apaixona-se por Colette (Pisier), jovem que encontra constantemente
nos concertos de música clássica, enquanto o amigo de infância Rene (Auffray), apaixona-se por uma prima.
Colette não vê em Antoine, no entanto,
mais que um amigo. Doinel, em sua paixão, acaba mudando-se para um apartamento
em frente ao que Colette vive com sua família. Ainda assim, Colette teima em
tratá-lo como amigo. Enquanto isso, Rene progride com a prima, que corresponde
a seu amor com cartas apaixonadas. A
decepção de Antoine aumenta com um encontro frustrado no cinema, em que Colette
o rejeita. O golpe final nas esperanças de Doinel vem com um convite que
Colette faz para que jante com sua família. No ínterim, chega seu namorado e
eles saem, deixando Antoine assistindo televisão com os pais.
Nesse
curta, que é o segundo do ciclo Doinel, realizado para o longa coletivo Amor aos 20, com colaborações de Marcel Ophüls, Renzo Rossellini e Wajda, Truffaut consegue um resultado comovente em
sua simplicidade, que o aproxima de Os
Incompreendidos (1959), em sua concisão dramática, ao não se afastar de sua
temática central para seguir trilhas paralelas, mais próximas de certos
elementos de filmes de gênero, como faria nos filmes posteriores e mais
convencionais do ciclo. Soma-se a isso uma maior inventividade e variedade na
forma, com grande destaque para a montagem - sobretudo na cena em que Antoine
corteja Colette em uma apresentação de música - , a fusão e a foto fixa. Também
não deixa de lado os recursos habituais, como a máscara, que destaca alguns
personagens do quadro. Ou ainda o flashback
extraído de um filme anterior - no caso, a cena em que Antoine se diverte
fumando no quarto com Rene em Os
Incompreendidos. Ou sua fixação pelas relações sociais que se dão de janela
à janela. Inicia com uma bela panorâmica e encerra com uma não menos inspirada série de fotos fixas
de casais. É pontuado pela trilha-sonora com peças de Bach - a famosa Suíte nº 03 em ré menor, magistralmente
utilizada por Jacques Demy em O
Segredo Íntimo de Lola (1969)
- que realça as mais banais ações cotidianas, dando-lhes uma dimensão de
inesperada beleza. O filme consegue transmitir, no seu conjunto, uma atmosfera
de sensibilidade - correspondente ao momento do primeiro amor - e nostalgia
- referente à uma possível visão
retrospectiva dos fatos, a do cineasta - sem apelar para o sentimentalismo. A
cena da abordagem que um homem faz a uma mulher na platéia do concerto de
música, com esta retirando-se indignada, foi revivida em O Bandido da Luz Vermelha (1969), de Sganzerla, entre dois homens
em um cinema da boca-do-lixo paulistana. Ulisse Productions.32 minutos.
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