Filme do Dia: Copacabana Me Engana (1968), Antônio Carlos Fontoura
Copacabana me Engana (Brasil, 1968). Direção: Antônio Carlos
Fontoura. Rot. Original: Antônio Carlos Fontoura, Armando Costa & Leopoldo
Serran. Fotografia: Affonso Beatto & Jorge Bodanzky. Montagem: Mário
Carneiro. Com: Odete Lara, Carlo Mossy, Paulo Gracindo, Lícia Magna, Ênio
Santos, Joel Barcellos, Cláudio Marzo, Yolanda Cardoso, Maria Gladys, Luiz
Marinho.
Marquinhos (Mossy) é um jovem sem
maiores perspectivas de vida que passa o tempo a se divertir com amigos
igualmente inconsequentes. Apaixona-se pela vizinha do apartamento da frente,
que já havia sido observada por ele e seus amigos, Irene (Lara). Certo dia,
andando pelas ruas do centro com a mãe (Magna), flagra o pai (Santos) com outra
mulher, e sua mãe faz um verdadeiro escândalo. O romance com Irene fica abalado
quando ele conhece um ex-amante seu mais maduro, sofisticado e rico (Gracindo),
que lhe leva para almoçar, demonstra não se encontrar nenhum pouco preocupado
com Marquinhos enquanto rival e lhe deixa no apartamento de Irene completamente
embriagado. Irene, no entanto, interessa-se pelo irmão de Marquinhos mais
maduro, Hugo (Marzo), enquanto ele e seus amigos se divertem fazendo pirraça em
uma reunião sindical.
Embora
aparentemente inconseqüente, trata-se de uma poética reflexão sobre seu tempo
registrado numa bela fotografia e provavelmente bastante influenciado pela Nouvelle Vague (particularmente, Chabrol
e Godard). Mesmo existindo um ligeiro flerte com o ambiente do submundo dos
cinemas pornôs que pode evocar os filmes do Cinema Marginal (ao som de alguns
sucessos populares do momento (Os Mutantes, a insistente Baby com Gal Costa, Altemar Dutra, etc., evocativa do universo de
Sganzerla contemporâneo) e uma ironia-tributo (?) latente a respeito do
engajamento político do Cinema Novo, sobretudo Terra em Transe, com o mesmo Luiz Marinho vivenciando um homem do
povo engajado, é mesmo ao movimento francês que se deve creditar mais sua busca
por espontaneidade na descrição da relação entre os jovens. De qualquer modo, a
relação conflituosa dessa nova geração com a anterior tampouco deixa de ser
ressaltada como a de muitos outros filmes contemporâneos (notadamente Matou a Família e Foi ao Cinema, Os Herdeiros) e posteriores (A Casa Assassinada, A Culpa, Toda Nudez Será Castigada, O Casamento), sinalizando para a
derrocada de uma moral patriarcalista e conservadora, que deixa em seu rastro
um vazio existencial nos personagens, bem mais contundente e menos afetado, ao
menos em seus momentos mais inspirados, que o de um Noite Vazia, com a mesma Lara. Ainda que longe do radicalismo dos
filmes mais reconhecidos do Cinema Novo e Marginal, o filme mesmo
despretensiosamente consegue ser mais instigante que outros retratos da
situação afetiva na classe média como os realizados por Domingos de Oliveira
(como em Todas as Mulheres do Mundo),
com seu final em aberto e belos enquadramentos. Ainda que a Nouvelle Vague seja referência para algo
de que há mais interessante no filme, como as deambulações dos personagens
pelas ruas do Rio de Janeiro e uma certa atmosfera blasée e niilista, além de uma nova postura da mulher diante da
afetividade e do sexo, também é para o que há de pior – certas sequências em
que Lara e Mossy discutem sobre algo que não possui nenhuma relação direta com
o enredo e que parece uma cópia sofrível dos talentosos diálogos dos casais
moderninhos de Godard em filmes como Uma Mulher é uma Mulher). Sua insistente objetificação do corpo masculino,
antecipadora de filmes mais discutíveis e menos interessantes calcados no
sensacionalismo sexual por parte de Fontoura como Espelho da Carne (1984), aqui está vinculada a essa nova dimensão
de liberdade do olhar feminino que dez anos antes havia provocado furor no
cinema internacional com Os Amantes,
de Malle. A.C. Fontoura & D.Achcar. 96 minutos
Car@s, na divulgação da referida resenha no you tube, fui respondido prontamente pelo autor de uma das postagens do filme no tube, o sr. Alberto Valença Lima, que me deixou link sobre duas resenhas de seu blog que são uma com relação ao próprio filme em questão aqui resenhado e outra do filme de Malle que também cito na minha resenha.
ResponderExcluiraqui vão os links para quem tiver curiosidade:
https://www.youtube.com/redirect?stzid=UgznhLo-nYJA9slJi1t4AaABAg.8rD7GL-hrko8rDsvOQlNSa&event=comments&q=http%3A%2F%2Fverdadesdeumser.com.br%2F2018%2F06%2F22%2Fos-amantes-louis-malle-filme-online%2F&redir_token=EtDMU3RoN6mRewV9TqkYtNRPElN8MTU1MDAxMjczM0AxNTQ5OTI2MzMz
https://www.youtube.com/redirect?redir_token=QvngwFlVPFzDrt_DEwPWaGHIZeh8MTU1MDAxMzAyOUAxNTQ5OTI2NjI5&q=http%3A%2F%2Fverdadesdeumser.com.br%2F2018%2F07%2F27%2Fcopacabana-me-engana-antonio-carlos-da-fontoura-filme-online%2F&stzid=UgznhLo-nYJA9slJi1t4AaABAg.8rD7GL-hrko8rDsvOQlNSa&event=comments
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ResponderExcluirAgradeço, Cid, por esta gentil referência às minhas resenhas feitas no blog Verdades de um Ser. Mas não são só as resenhas que as pessoas encontrarão. Lá nesses links que você postou, são disponibilizados os filmes com áudio original e legendas, que todos podem ver gratuitamente.
ResponderExcluirEntretando, os links que você postou estão sem efeito, ou incorretos.
Posto-os a seguir.
https://verdadesdeumser.com.br/2018/06/22/os-amantes-louis-malle-filme-online/ (Para o filme de Louis Malle)
https://verdadesdeumser.com.br/2018/07/27/copacabana-me-engana-antonio-carlos-da-fontoura-filme-online/ (Para o filme Copacabana me engana)
Agradeço.
Obrigado pela repostagem, agora correta!!
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