Filme do Dia: The Trio's Engagements (1937), Yasujirô Shimazu
The
Trio’s Engagements (Konyaku Sanbagarasu,
Japão, 1937). Direção e Rot. Original: Yasujirô Shimazu. Fotografia: Shôgirô
Sugimoto. Com: Ken Uehara, Masami Morikawa, Kazuko Komaki, Shûji Sano, Shin
Saburi, Mieko Takamine, Hideo Takeda.
Três rapazes que passam a trabalhar em uma
loja de luxo e todos, o pouco polido Kin (Saburi), o galanteador Ken (Uehara) e
o gentil e tímido Shûji (Sano) se atraem pela filha do dono da empresa, Reiko
(Takamine). Todos, portanto, pretendem se afastar de suas noivas. Quando Kin
conta a Ken o passeio e jantar que teve com Reiko e sua família, a inimizade se
estabelece entre os outrora companheiros de moradia. Logo, no entanto, os três
perceberão que as intenções de Reiko são bem outras. Quando o mal entendido é
desfeito, a animosidade entre os três desaparece, assim como a hostilidade para
com suas noivas.
Decepcionantemente mais convencional e próximo
de mimetizar as então chamadas “comédias sofisticadas” americanas, esse filme
de Shimazu se afasta do habitual perfil social pequeno-burguês provinciano de
seus filmes mais interessantes (a exemplo de Our Neighbor, Miss Yae) para tentar algo do tipo em um grupo mais
elitizado. Pretexto para cenários artificiosos e que ressaltam a vida moderna
japonesa – já algo sugeridas desde seus primeiros planos, em que o galã Ken
surge entediado a observar o vai-vem dos trens urbanos e que se estenderá para
os ambientes luxuosos e kitsch de
mansões, lojas de departamentos e a vida noturna de Ginza, com seus luminosos
em néon. Em meio a tudo isso as enfadonhas artimanhas românticas envolvendo o
trio masculino principal que refere o título. E, evidentemente, trata-se de
três rapazes de extratos sociais inferiores que se apaixonam por uma mulher
mais rica, num movimento inverso ao que a dramaturgia convencional estabeleceu
nas relações de gêneros/classes sociais. Apesar disso, o resultado é
francamente desapontador. O excesso de personagens em trama relativamente curta
tampouco auxilia provocando certo senso de desorientação sobre o que de fato
ocorre em várias situações. O evidente descompasso visual entre as imagens em
estilizados cenários e as ruas vibrantes de Tóquio nunca tão salientes quanto
Ken se encontra no topo da loja de departamento na qual trabalha e poderia
servir como metáfora para uma dramaturgia algo anêmica e similar aos
correspondentes filmes de “telefone branco” produzidos na Itália contemporânea,
à exceção das constantes referências a crise econômica que não se esquivam, em
maior ou menor grau, em surgir na produção do período. E, curiosamente, o trio
principal de atores possui personagens que reproduzem seus próprios nomes,
estratégia habitualmente mais utilizada em filmes de cunho mais realista e/ou reflexivo-autoral.
Uehara, de marcante participação em Sr.
Obrigado, de Shimizu, do ano anterior, é não mais que um rosto bonito e
conveniente aos propósitos da trama. Outros clichês romanescos como a trilha
sonora mimetizar acordes que um personagem efetua ao trombone tampouco
conseguem ir além do que são. Talvez interessante apenas em raros momentos,
como quando dois dos rapazes – todos parecem ter se contaminado pelo mundo em
que trafegam, mais do que propriamente tem condições de manter – que trabalham
no magazine se vêem grandemente constrangidos com a súbita chegada de suas
pretendentes e eles não as recebem e ainda as desqualificam para o amigo em
termos deletérios por ser de sua mesma condição social. Ou ainda o comentário
dissonante dos pais de Osen, quando seu namorado deixa o restaurante com ela,
com a mãe afirmando ser ele um bom rapaz, másculo, e o pai que ele come feito
um porco. E, ainda no passeio que segue do casal, esse hiato social é reforçado
pelo comentário romântico da garota sobre os navios vistos ao fundo, enquanto
para ele não trazem mais que o amargor da experiência concreta de ter
trabalhado neles. Fica-se com a antecipação que essa comédia tem limites para
sua ousadia inter-classes e que parece apontar
para o habitual reconhecimento do “lugar de cada um” ao seu final, como
de fato o faz. Shochiku Ofuna. 66 minutos.
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