Filme do Dia: Plataforma (2000), Jia Zhang-ke
Plataforma (Zhantai, China/Japão/Hong Kong/França, 2000).
Direção e Rot. Original: Jia Zhang-Ke. Fotografia: Nelson Yu-Lik-wai. Música:
Yoshihiro Hanno. Montagem:
Jing Lei Kong. Dir. de arte: Shiu Queng. Figurinos: Qi Lei & Zhao Xiafei. Com:
Wang Hong-wei, Zhao Tao, Liang Dong Jing, Yang Yi Tian, Wang Bo.
Após a morte de Mao Tse-Tung, na
província de Fenyang, China, jovens que
fazem parte do Grupo de Cultura dos Camponeses, busca desesperadamente sorver
um pouco da cultura pop que vem do estrangeiro, enquanto aos poucos, devido aos
imperativos financeiros, privatiza-se e se transforma na banda pop alternativa All
Star Rock and Breakdance Band. Cui Mingliang (wei) se inicia num mundo de
liberdade, inclusive sexual, antes desconhecida. Porém, retorna para a
provinciana Fenyang, mesmo temendo ser engolfado pela mesmice de seus muros,
representado pela garota que era seu sonho de alguns anos antes.
Esse soberbo filme conjuga sua
extrema contenção emocional com uma das mais belas reflexões sobre a China
contemporânea, fugindo tanto do esquematismo com que algumas produções
(inclusive de Zhang Yimou) representaram a Revolução Cultural de meados da
década de 1960, quanto da medíocre produção rotineira contemporânea que possui
o aval do repressor Estado, via de regra reproduzindo de forma piorada e
ufanista os cacoetes de uma dramaturgia padrão internacional. Sua contenção
está presente tanto nas interpretações quanto no seu próprio estilo, repleto de
longos planos que vão além do interesse meramente narrativo, reproduzindo o
tédio, dúvidas, angústia ou expectativas
dos jovens através tanto desse ritmo reflexivo quanto das diversas paisagens da China, efetivando uma
travessia que metaforiza a nação, mais próxima da dimensão existencial de No Decorrer do Tempo (1976), de Wenders que de uma metáfora mais direta
sobre a situação político-econômica nacional como Iracema, uma Transa Amazônica(1975), de Bodanzky e Orlando Senna. Porém, para além da dimensão existencial
também está presente a moldura política mais ampla, tanto nos momentos de repressão vivenciados
por membros da trupe quanto pela própria metamorfose vivenciada pelo grupo,
sendo mais correto afirmar que ele quase faz uma fusão dos objetivos presentes
nos filmes alemão e brasileiro dos anos 1970. Em termos narrativos, a contenção
do filme frustra qualquer expectativa de algum efeito narrativo fácil,
relacionado a morte ou violência. Ao mesmo tempo, não deixa de relativizar o
caráter “provinciano” da realidade que retrata de uma maneira involuntariamente
antropológica, crítica e terna de uma vez só, demonstrando que até mesmo os
provincianos jovens da província de Fenyang, que cercam entusiasmadamente um
membro do grupo que conheceu uma metrópole, tornam-se a expressão do
cosmopolitismo ao viajarem pelas províncias ainda menos ocidentalizadas de sua
turnê. De tinturas provavelmente autobiográficas (o cineasta é oriundo de
Fenyang), o filme faz igualmente uma crônica de um momento histórico do país
ainda pouco presente nas telas, cuja maior parte da produção conhecida, pelo
menos no Ocidente, ainda se detém num período anterior, onde houve um processo
repressivo bem mais cruel. Embora a repressão no país seja bastante acentuada e
provavelmente ainda mais no momento descrito pelo filme, um de seus méritos é o
de optar por retratar as estratégias para burlar essa repressão. Segundo filme
do jovem cineasta nascido em 1970. A versão exibida no Festival de Veneza
possuía 193 minutos. Artcam International/Bandai Ent./Hu
Tong Communications/Office Kitano/T-Mark.145 minutos.
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