Filme do Dia: Argo (2012), Ben Affleck
Argo (EUA, 2012). Direção: Ben Affleck. Rot. Adaptado: Chris Terrio, baseado no livro The Master of Disguise, de Tony Mendez e no artigo Escape from Teheran, de Joshuah Bearman. Fotografia: Rodrigo Prieto. Música: Alexandre Desplat. Montagem: William Goldenberg. Dir. de arte: Sharon Seymour & Peter Borck. Cenografia: Jan Pascale. Figurinos: Jacqueline West. Com: Ben Affleck, Bryan Cranston, Alan Arkin, John Goodman, Victor Garber, Tate Donovan, Clea DuVall, Scott McNairy.
Em 1979, em pleno furor nas ruas de Teerã, provocados pela Revolução Iraniana, e com os Estados Unidos abrigando o ex-líder do país e verdadeiro marionete dos interesses norte-americanos, Xá Reza Pahlevi, a embaixada americana e meia-dúzia dos reféns consegue escapar para a Embaixada do Canadá. Com pouco tempo e opções, o agente do FBI Tony Mendez (Affleck) cria o rocambolesco plano de um falso filme de ficção canadense a ser rodado no Irã, Argo, fazendo com que os refugiados se tornem pretensos membros da produção do mesmo. Após contatar alguns nomes de Hollywood tais como Lester Siegel (Arkin) e John Chambers (Goodman), Mendez parte para o Irã como produtor associado da inexistente produção. Tensos, os refugiados tem que concordar e sentem a pressão no momento em que visitam o grande bazar da cidade, uma das pretensas locações do filme. Enquanto treinam melhor os seus próprios papéis, Mendez recebe uma ligação de seu chefe, Ken Taylor (Garber), afirmando que o plano já foi descoberto pelos iranianos. Passando a noite em claro, Mendez não vê outra alternativa que assim mesmo ir até o aeroporto de Teerã. Apesar da tensão e desconfiança que ocorre no momento do embarque, tudo se sucede bem, e quando a polícia iraniana tenta impedir a partida do voo já é tarde demais. Mendez é reconhecido como herói e volta a morar com a esposa e o filho, de quem havia momentaneamente se separado.
Verdadeiro acolchoado de clichês, esse filme de ação político é de fazer corar qualquer espectador que tenha conhecido alguns dos bem mais inteligentes e visualmente instigantes filmes que faziam semelhante casamento, tais como Sob o Domínio do Mal (1962), de John Frankenheimer ou A Última Testemunha (1974), de Alan J. Pakula ou mesmo algumas das produções dirigidas por George Clooney, aqui produtor, mais próximas temporalmente. Se o prólogo do filme, no estilo documental que já virou lugar-comum, não se escusa de apresentar os Estados Unidos como responsáveis pela imposição e retrocesso, em termos de democracia e interesses nacionais, representado pelo golpe de estado que levou Pahlevi ao poder, esse comentário torna=se algo como uma nota de rodapé, a partir do momento em que Mendez encarna o arquétipo do herói liberal que arrisca a própria vida e vai de encontro a todas as evidências, e se pretende criar a mesma empatia com a fuga dos reféns que se observa no comando de operações nos Estados Unidos, cuja função de coro/claque relega uma coadjuvância narrativa semelhante a das torres de controle em filmes de desastre ou sequestro aéreo tais como Aeroporto (1970). Ou seja, menos que uma ação extremamente coletiva, inclusive com enorme participação canadense, todos os louros repousam no mocinho, devidamente encarnado pelo limitado ator que é igualmente seu realizador – ao contrário dos excelentes atores de caracterização que são Goodman e sobretudo Arkin. Aos iranianos, evidentemente, não cabe mais que o limitado papel coletivo de fanáticos algo idiotizados, ao se deixarem engabelar por pouco mais que stills da produção fajuta encenada. Como é comum em produções semelhantes contemporâneas, o filme pretende capitalizar em termos de verossimilitude, na mimetização do visual de uma época, algo reforçado pelos créditos finais, onde se observa lado a lado as imagens da época e as encenadas pelo filme, porém não deixa de ser irônica que a imagem do célebre letreiro de Hollywood praticamente em ruínas (algo que já não era verdade no momento em que o filme se passa) seja entrevista numa cena aérea de um filme que apenas reforça explicitamente todos os valores associados com a Hollywood clássica, incluindo o merecido “repouso do guerreiro” junto à vida doméstica com a qual o filme finda. Warner Bros/GK Films/Smoke House para Warner Bros. Pictures. 120 minutos.
Comentários
Postar um comentário