Filme do Dia: A Flor do Deserto (1962), Sergei Paradjanov
A Flor no Deserto (Tsevtok na Kamne, URSS, 1962). Direção:
Sergei Paradjanov. Rot. Original: Vadim Sobko. Fotografia: Sergei Revenko
& Lev Shtifanov. Montagem: M. Ponomarenko. Dir. de arte: Mikahil Rakovsky.
Figurinos: O. Yablonskaya. Com: Lyudmila Cherepanova, Boris Dmokhovski, G.
Karpov, I. Kirilyuk.
Lyuda
(Cherepanova) se afasta chorosa da família para ir supervisionar os trabalhos
de uma mina a milhares de distância. Lá, torna-se objeto da paixão de Griva
(Karpov), que se ressente da divisão que houve na pequena comunidade após a
inserção de uma seita de fanáticos religiosos. Griva se aproxima da seita
apenas para ficar próximo de Lyuda, mas a própria Lyuda perceberá que o líder
da seita se aproveita de sua posição para tentar se casar com ela.
Não por
acaso esse, como seu primeiro longa-metragem, do ano anterior, foram renegados
posteriormente por Paradjanov. Há uma forte presença dos preceitos realistas
socialistas senão em termos imagéticos (se é que estes existiram) na própria
trama, para não mencionar os elementos de fundo, como o próprio processo
produtivo. Se o herói chega a ter seus momentos de fraqueza, associados a vodka
e a paixão aparentemente não correspondida, não faltarão corretivos da figura paternal que evoca uma
inflexibilidade mais próxima de preceitos artísticos ainda mais rígidos –
deve-se lembrar que já se aproxima o período do degelo de Kruschev. Os momentos
musicais também se encontram lá, porém mais tímidos e orgânicos com o restante
do enredo que seus equivalentes mais fervorosamente propagandísticos
(observados ironicamente pelo documentário Assim
Dançou o Comunismo). É através de referências diretamente associadas ao
universo de vida de seus personagens que o filme procura representar o amor de
Griva por Lyuda, dando-lhe como presente a flor incrustada sobre a pedra de
milhares de anos – evidente e piegas metáfora para a própria Lyuda. O
ressentimento de Griva pelo reconhecimento negado pelos companheiros, cegos
pela submissão religiosa, serve como uma luva
para o tosco servilismo aos
ditames ideológicos de plantão do regime em contraposição a um Griva que canta
as maravilhas do mundo como produzidas pela própria mão humana. Quando sonha em
ser reconhecido socialmente, Griva se encontra sendo homenageado em um reino
por seus feitos, e todos riem com os rostos cobertos de fuligem provocada pelo
carvão em brasa. Ou seja, até mesmo nesse deslocamento para um mundo fabular
mais pueril, é o objeto material que possibilita a vida dos personagens que irá
ter um destaque fundamental. Mais importante, no entanto, é que essa sequência,
juntamente com o herói rolando bêbado por uma montanha de hulha, serão os
únicos indícios do talento visual que destacará internacionalmente o
realizador. Na sequência da queda,
observa-se o rodopio feérico da câmera fazendo as vezes do ponto de
vista de Griva. Ainda que nesse último caso, tais preciosismos visuais,
sobretudo o bem mais convencional que a imagem é apresentada de ponta-cabeça
por representar a perspectiva do herói ao chão se desloquem na carreira do
realizador futuramente menos para cacoetes estilísticos a partir da técnica do
que para a própria composição dos elementos de cena diante da câmera (A Cor da Romã, A Lenda da Fortaleza Suram). Filmstudio Aleksandr Dovshenko. 71
minutos.
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