Filme do Dia: Páscoa de Sangue (1950), Giuseppe De Santis
Páscoa de Sangue (Non c’è Pace tra gli Ulivi, Itália,
1950). Direção: Guisseppe De Santis. Rot. Original: Guisseppe De Santis, Libero
De Libero, Carlo Lizzani, Guisseppe De Santis & Gianni Puccini, a partir do
argumento de Puccini Fotografia: Piero Portalupi. Música: Goffredo Petrassi.
Montagem: Gabriele Varriale. Dir. de arte e Cenografia: Carlo Egidi. Figurinos: Anna Gobi. Com: Raf
Vallone, Lucia Bosé, Folco Lulli, Maria Grazia Francia, Dante Maggio, Michele
Riccardini, Vincenzo Talarico, Piero Tordi.
Após
retornar da guerra e passar um tempo na prisão, Francesco (Vallone), descobre
que a família se encontra em dificuldades, em grande parte graças ao
oportunismo de Bonfiglio (Lulli), um ganancioso e rude homem que somente pensa
em si próprio. Bonfiglio pretende também se apoderar da jovem e bela Lucia
(Bosé), apaixonada por Francesco. Lucia,
contra à sua vontade, pretende se unir a ele apenas para ajudar sua família,
porém quando sabe que a irmã de Francesco, Maria Grazia (Francia), manteve
relações com ele, rompe o noivado. Ao saber que Francesco andou voltando a se
apoderar das ovelhas que um dia lhe foram roubadas, Bonfiglio chama a polícia e
a questão vai parar no tribunal. A
situação continua e Bonfiglio afirma ao comandante da força policial (Riccardini)
que irá fazer justiça com suas mãos. O comandante retruca que seus homens já
estão indo para a montanha aprisionar Francesco. Bonfiglio manda também um
grupo de seus homens. Lucia vai se unir a Francesco. Ele consegue driblar a
força policial e se encontra com os homens de
Bonfiglio, que o apoiam, e vai ajustar suas contas com Bonfiglio, agora
casado com sua irmã. Bonfiglio foge e assassina Maria Grazia, decidindo se
matar quando se vê acuado entre Francesco e um precipício.
É
evidente o desejo de se dirigir ao mercado americano presente numa versão
especialmente preparada com créditos em inglês, assim como uma legendagem especificamente
produzida, para que certamente não se perdesse uma boa parte da “cor local”, na
cola do sucesso do Neorrealismo incluindo o seu próprio Arroz Amargo. Porém, mesmo que compartilhe com a produção neorrealista
a temática social e a filmagem em locações, o filme se distingue já em seu
princípio, ao apresentar um virtuoso plano-seqüência que dura não menos que
dois minutos. Do mesmo modo a narração do próprio De Santis, que certifica se tratar de uma história como
muitas que presenciou em “sua terra”, já que foi filmado na região onde nasceu,
dando-lhe uma dimensão de testemunho realista, a desvela, como o virtuoso
trabalho de câmera inicial ou a curiosa cena em que o casal apaixonado
interpreta menos entre si do que diretamente para a câmera, explicitando o
filme enquanto elaboração narrativa, e igualmente provocando um efeito de
distanciamento emocional, ambas características do cinema moderno. O filme
apresenta vários entraves, talvez a maior parte deles devedora da difícil
tentativa de conjugar sua moral fabular com seus cenários e personagens de
pretensões realistas (algo semelhante a O
Árido Verão) em uma chave mais próxima de um cinema palatável para o grande
público do que as produções neorrealistas. O tiro acaba saindo pela culatra, já
que tanto Vallone quanto Bosé possuem uma chave interpretativa demasiado
convencional, e mesmo empostada num estilo que beira o hollywoodiano, entrando
em choque com o amadorismo de boa parte do restante do elenco de apoio. E, por
outro lado, a solução do povo se unindo contra um inimigo comum, que representa
evidentemente o egoísmo de um individualismo pequeno-burguês, parece demasiado
fácil para ser efetiva. Uma suave exploração do erotismo tanto feminino quanto
masculino do par central já havia sido prenunciada em seu mais famoso Arroz Amargo e o cineasta inclusive
quis repetir Mangano como Lucia, não conseguindo por conta da gravidez da
atriz. Trabalhando com tema semelhante, Vittorio De Seta efetivou um filme mais
próximo do cinema moderno de sua época, com Banditi a Orgosolo. À forma subserviente com que a protagonista
feminina se rende ao seu amor sem limites, não se importando em ser estapeada
inclusive, somaria-se um erotismo menos suave e as cores de produções
posteriores como Giorni d’Amore, sem
abandonar o ambiente popular. Destaque para o tratamento pouco realista
(proposital?) dos efeitos sonoros de reações de aglomerados de pessoas reagindo
positiva ou negativamente a ação enquanto marcada função de coro para o drama em
fluxo. Lux Film. 93 minutos.
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