Filme do Dia: Drácula (1977), Philip Saville
Drácula (Count
Dracula, Reino Unido, 1977). Direção: Philip Saville. Rot. Adaptado: Gerald
Savory, a partir do romance de Bram Stoker. Fotografia: Peter
Hall. Música: Kenyon Emrys-Roberts. Montagem: Richard Redford & Rod
Waldron. Dir. de arte: Michael Waldron. Figurinos: Kenneth Morey. Com: Louis
Jourdan, Frank Finlay, Susan Penhaligon, Judi Bowker, Jack Shepherd, Mark
Burns, Bosco Hogan, Richard Barnes, Ann Queensberry.
Jonathan Harker (Finlay) visita a
Transilvânia, onde se encontra com o Conde Drácula (Jourdan), mesmo após ter
recebido várias admoestações de não fazê-lo na carruagem que o leva. Sua
intenção é firmar um contrato de propriedade na Inglaterra. Drácula o convence
a ficar um mês em seu castelo, sob o pretexto de lhe ensinar um perfeito
inglês. Aos poucos Harker percebe que, na verdade, é prisioneiro de Drácula.
Esse se interessa pelas fotos da noiva de Harker, Mina (Bowker) e sua irmã Lucy
(Penhaligon), partindo de encontro a elas e as seduzindo. A mãe das duas, Sra.
Westenra (Queensberry), morre de susto numa das investidas diabólicas de
Drácula. Lucy morre pouco depois. O cientista van Helsing (Finlay), que se
interessa pelo caso, descobre que sua suspeita possui fundamento e que Lucy não
apenas morreu, mas passou a ser uma morta-viva, fazendo vítima uma criança.
Essa produção para a TV, mesmo longe de
possuir a ousadia visual do contemporâneo filme realizado por Herzog em tributo
ao clássico de Murnau, não deixa de, mesmo dentro das limitações de um filme
mais próximo de ser filiado ao gênero, trazer algumas surpresas visuais, como a
estranha imagem de Drácula se arrastando nas paredes externas de seu castelo,
enquanto metade-homem, metade-vampiro. Mais que isso, no entanto, faz-se
evidente a sua proximidade com o romance de Stoker, seguindo de forma
aproximada seu fio narrativo como poucos, antes e depois e, ao mesmo tempo,
construindo um imaginário visual distante das tradições do gênero no cinema,
como é o caso, por exemplo, do profícuo ciclo de filmes produzido pelo estúdio
conterrâneo Hammer. De fato, o filme se afasta dos atores tradicionalmente
vinculados a este, algo que somado ao desenho de produção bastante distinto,
traz uma dimensão algo realista e, por conta de sua proximidade com o romance
de Stoker, retrabalhando opções que já haviam sido efetuadas, sobretudo pelo Nosferatu (1922), de Murnau, como é o
caso do cocheiro de rosto parcialmente coberto, a referência ao capitão do
navio que se amarra ao próprio timão e, ainda mais que isso, uma atualização do
uso experimental dos efeitos em negativo do filme alemão agora com os recursos
propiciados pela imagem em vídeo. O erotismo sempre fortemente associado ao
gênero, como já o havia sido na própria fonte literária, aqui trai talvez a
influência de Rosas Selvagens (1960) e talvez isso também tenha sido decisivo ao fazer uso de um ator estrangeiro mais ou menos entranhado no cinema anglo-saxão, como a versão mais célebre o fizera em 1931 com Lugosi. Torna-se evidente, igualmente, que
enquanto virginal e pura, Lucy é a imagem da heroína romântica que se
transforma em desregrada e promíscua, sendo sua “liberação” associada a seu
vampirismo, numa ambiguidade sexual em nada distante da presente em outro
clássico literário do gênero também bastante popular no cinema, O Médico e o Monstro. Há uma sutil
ironia no momento em que Drácula acusa seu inquisidor de tentar ser mais
convincente ao se dirigir a ele em latim. Em momentos finais de sua longeva
metragem a ação banaliza a relativamente sábia construção atmosférica do filme.
BBC. 150 minutos.
Comentários
Postar um comentário