Agora o alemão anda pelo quarto de camiseta, com os braços rosados e gorduchos feito coxas, e de vez em quando fica em foco na fresta; a certa altura também dá para ver os joelhos da irmã rodando no ar e se metendo debaixo dos lençois. Pin agora tem de se contorcer para saber onde vai ser deixado o cinturão com a pistola; está lá pendurado no espaldar de uma cadeira como uma fruta estranha e Pin gostaria de ter um braço tão fino quanto seu olhar para fazê-lo passar pela fresta, apanhar a arma e puxá-la para si. Agora o alemão está nu, de camiseta, e ri: sempre ri quando está nu, porque no fundo sua alma é pudica, de moça. Pula na cama e apaga a luz; Pin sabe que vai passar um pouco de tempo assim na escuridão e em silêncio, antes que a cama comece a gemer.

(A Trilha dos Ninhos de Aranha, Ítalo Calvino, p. 41)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Filme do Dia: Der Traum des Bildhauers (1907), Johann Schwarzer

Filme do Dia: Quem é a Bruxa? (1949), Friz Freleng

A Thousand Days for Mokhtar