Filme do Dia: King Kong (2005), Peter Jackson
King Kong (EUA, 2005). Direção: Peter
Jackson. Rot. Adaptado: Fran Walsh, Phillipa Boyens & Peter Jackson,
baseado no argumento de Merrian C. Cooper & Edgar Wallace. Fotografia: Andrew
Lesnie & Derek Whipple. Música: James Newton Howard & Blake Neely.
Montagem: Jamie Selkirk. Dir. de arte: Grant Major, Simon Bright & Dan
Hennah. Cenografia: Dan Hennah. Figurinos: Terry Ryan. Com: Naomi Watts, Jack
Black, Adrien Brody, Thomas Kretschmann, Colin Hanks, Andy Serkis, Evan Parks,
Jamie Bell.
Carl Denhan (Black) é um cineasta
alucinado em filmar uma ilha misteriosa na Singapura. Seus planos, no entanto,
são atrapalhados pela negação dos executivos da Universal em produzir o filme.
Por conta própria Denham decide contratar a atriz de music-hall Ann Darrow (Watts) e partir sem autorização para a ilha.
Após muitos entreveros, a expedição chega à ilha e acabam se tornando vítimas
dos selvagens que seqüestram Ann, aprisionada como oferenda para o gigantesco
gorila King Kong. O monstro a defende das investidas de vários dinossauros, mas
é capturado pelo ganancioso Denhan, que o leva para exibição na Broadway.
Enfurecido com a situação, Kong foge do teatro e provoca grande estrago nas
ruas de Nova York. Ann vai a seu encontro e ele a carrega até o topo do Empire
State.
Refilmagem com pouca imaginação e
muitos efeitos digitais do clássico de 1933 de Merrian C. Cooper e Ernerst B.
Schoedsack, também já levado pelo cinema numa atualização canhestra pelo
produtor De Laurentiis, em 1976. Permanece o mesmo etnocentrismo do original,
na sua visão sombria da floresta e de seus “primitivos” moradores, que mais
parecem animais destituídos de qualquer senso de cultura em contraposição a
civilizada, branca – com exceção de um membro da tripulação, negro - e bela trupe de desbravadores. Porém, se a
visão desse Outro permanece tão ou provavelmente mais aterradora que no
original, remetendo explicitamente ao Coração
das Trevas, de Conrad, lido por um dos personagens, o charme e a inocência
da bela construção atmosférica da produção de 1933 se torna impossível de ser
reconstituída, sendo sufocado pela cansativa sucessão de clímaxes de
perseguição mais antenada com a produção contemporânea e sua influência do
Spielberg de Caçadores da Arca Perdida (1981)
e Jurassic Park (1993). Após décadas
de filmes explorando temáticas semelhantes, cujas dezenas de alusões a que o
filme faz referência são prova, pouco resta que não seja referência ou sutil
pastiche – de Fay Wray, uma das atrizes cogitadas a viver o papel principal e
que, na realidade, atuou na produção original até as louras que o gorila pensa
ser sua amada , dispensando-as sem qualquer cerimônia, gag provavelmente
extraída de um hilário comercial de TV, mas que aqui está longe de repetir o
sucesso. Para completar, não menos que toscos arremedos de subtramas como a do
tripulante negro do navio enquanto símbolo de masculinidade para um jovem que
se inicia no mundo adulto ou do amor entre o roteirista e a atriz que
juntamente com o imenso gorila, forma um triângulo amoroso um tanto quanto
desigual para o primeiro. O abuso dos efeitos especiais digitalizados, e boa
parte do filme se arrasta desnecessariamente apenas para exibir os mesmos, e de
uma fotografia e direção de arte que recriam uma Nova York decô tampouco
original são evocativos de outras super-produções temporalmente próximas tais como
O Aviador (2004), de Scorsese, com
quem também compartilha de uma trilha musical pasterizada. Big Primate
Pictures/Universal Pictures/WingNut Films. 187 minutos.

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