Filme do Dia: Três Mulheres (1961), Satyajit Ray
Três
Mulheres (Teen Kanya, Índia, 1961).
Direção: Satyajit Ray. Rot. Adaptado: Satyjai Ray, baseado em contos de
Rabindranath Tagore. Fotografia: Soumendu Roy. Música: Satyjai Ray. Montagem:
Dulal Dutta. Dir. de arte: Bansi Chandragupta. Com: Chandana Banerjee, Nripati
Chatterjee, Khagen Pathak, Anil Chatterjee, Gopal Roy, Kali Bannerjee, Kanika
Majumdar, Kumar Roy, Govinda Chakravarti, Aparna Sen, Sita Mukherjee, Gita Dey,
Santosh Dutta, Mihir Chakravarti.
O Chefe dos Correios. Nandal (Anil
Chatterjee) é designado como novo dirigente dos correios em um distante
vilarejo. Ratan (Chandana Banerjee), uma jovem garota orfã, torna-se sua
criada. Tendo vivido até então em Calcutá, Nandal sente o choque cultural de viver isolado do
mundo. Escreve regularmente para a mãe, sofre de uma crise de malária (em que é
auxiliado por Ratan) e ensina os rudimentos do alfabeto para a garota. Acaba,
no entanto, não suportando por longo tempo a experiência e a primeira
possibilidade que surge ele decide ir embora, deixando Ratan magoada. As
Jóias Perdidas. Um professor vai até uma mansão abandonada e, nas
escadarias próximas ao rio, conta para um homem uma história a respeito de um
casal que lá viveu. Mani (Majumdar), recém-casada com o jovem explorador de
juta Phanibhushan (Kali Bannerjee), é obcecada por jóias. O marido, para possui
o seu amor, a presenteia, vez por outra,
com uma nova peça. Porém, a situação muda de figura quando um incêndio provoca
a destruição da plantação de juta. Enquanto o marido parte para Calcutá, em
busca de financiamento para pagar aos credores, Mani resolve fugir, com toda
sua coleção no seu próprio corpo, juntamente com
o ex-amante Madhusudan (Roy). Ao retornar, o marido passa a sofrer de
alucinações, em sua obsessão pelo retorno da esposa. Como prometera a ela, caso
conseguisse o empréstimo, ele havia lhe trazido um novo colar. Em uma noite de
lua cheia, o espírito de Mani vem buscar a jóia. Após contar sua história, o
professor é contestado pelo ouvinte que, na verdade, é um fantasma do marido
abandonado. Samapti. Amulya (Soumitra Chatterjee) é um jovem estudante
que aspira formação em direito. Sua mãe, no entanto, faz pressão para que ele
case o mais breve possível e até lhe “arranja” uma noiva. Amu vai até sua casa,
mas não gosta da garota. Para a tristeza da mãe a sua escolhida é a pobre e
semi-analfabeta Mrinmoyee (Sen), que passa o dia na rua. Depois de casados,
Mrinmoyee se revolta com o fato de ter que viver entre quatro paredes e foge.
Desconsolado, Amu retorna à Calcutá. Sua mãe, fingindo-se doente, recebe
novamente sua visita. Amu procura pela esposa, mas essa desapareceu desde que
soube que ele retornara. Ele a procura pela floresta, em meio à chuva. Ela,
extasiada, escuta tudo atrás de uma árvore. Quando Amu vai dormir, ela
repentinamente aparece em seu quarto.
Sem a mesma força cinematográfica e
uma certa marca autoral de suas produções anteriores, a trilogia de Apu e A Sala de Música, ainda assim Ray
realizou um bom filme. Mesmo que sua atmosfera seja excessivamente romanesca,
seu resultado final, ainda que pouco orgânico, é grandemente satisfatório. O
retrato das três figuras femininas segue estilos diferenciados – enquanto o
primeiro e o terceiro episódio são realistas, o segundo é uma fábula recheada
de elementos fantásticos. Não falta uma boa dose de humor (praticamente ausente
em suas produções anteriores) e sutileza psicológica na descrição do
relacionamento das três mulheres com seus pares masculinos. No primeiro
episódio fica reforçada a imagem de uma mulher forte e provedora, apesar da
pouca idade. No segundo fica realçada a
patologia obsessiva de ambos os protagonistas (enquanto ela é obcecada por
jóias, o marido é por ela), em que a mulher pode significar um caminho para a
desgraça. No terceiro, uma caracterização romântica, original e tocante de uma
“boa selvagem” que luta contra a sua domesticação e imposição de valores
alheios aos seus. Os dois últimos episódios são os melhores. Essa versão,
veiculada pela tv a cabo, aproxima-se mais da original (171 minutos) que da
versão internacional (114 minutos), que não contava com o episódio “As Jóias
Perdidas”. Satyjai Ray Productions. 161 minutos.

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