Filme do Dia: O Estranho Inquilino (1953), Hugo Fregonese
O Estranho Inquilino (Man in the
Attic, EUA, 1953). Direção Hugo Fregonese. Rot. Adaptado Robert Presnell
Jr. & Barré Lyndon, a partir do romance de Marie Belloc Lowndes. Fotografia
Leo Tover. Montagem Marjorie Fowler. Dir. de arte Leland Fuller & Lyle R.
Wheeler. Cenografia Eli Benneche. Figurinos Travilla. Maquiagem Louis Hippe.
Com Jack Palance, Constance Smith, Byron Palmer, Frances Bavier, Rhys Williams,
Sean McClory, Leslie Bradley, Tita Phillips.
Slade
(Palance) se torna um estranho inquilino do casal William (Williams) e Helen
(Bavier) Harley da Londres vitoriana amedrontada pelo Jack, o Estripador. Sua
sobrinha, Lilly (Smith) atriz e dançarina do teatro musical, passa a nutrir um
sentimento especial por Slade, embora ela
também seja motivo de atração para o investigador Warwick (Palmer) que,
como ocasionalmente os Harley, passa a suspeitar de Slade como sendo o
assassino procurado.
Há uma
aparente dificuldade em se filmar primeiros planos, mesmo no aparente cenário
de um estúdio a reproduzir as ruas de Whitechapel, Londres, onde a história é
ambientada, recorrendo-se a grotescas projeções de fundo. Bastante decente para
ser uma produção fora do circuito dos grandes estúdios. Talvez evoque mais as
produções britânicas contemporâneas que os filmes-B. E a face angulosa e ossuda
de Palance, ele próprio já sinônimo de vilania na sua até então curta carreira,
junto ao seu olhar vidrado, estaria entregando-o de bandeja como o estripador
desde sempre? Ou as boas referências dele como patologista o livrariam da
suspeita? Há igualmente o cachorro há latir contra ele, indício mais seguro. Há
se somar a vários outros, como o trauma relacionado à mãe, a base psicanalítica
inescapável do momento – embora trabalhada de forma mais discreta e trivial que
na caricatura final de Psicose, e produções antecedentes de Hithcock. Há
o narcisismo quase doentio da artista, para quem tudo gira em torno dela,
vivida pela bela Constance Smith. E coadjuvantes dignos do cinema
britânico. E não é interessante que se
faça uso da mesma Liebstood de Wagner utilizada em Um Cão Andaluz?
Seu final, contradiz as palavras do inspetor com o desaparecimento do criminoso
nas águas do Tâmisa, e sem tampouco uma definição maior em relação ao interesse
do inspetor pela atriz – uma motivação a mais para apostar em Slade como o
estripador, afinal estaria igualmente livrando-se de um concorrente. Reutiliza
vários cenários, e até takes de Ódio que Mata, lançado menos de uma
década antes e dirigido por John Brahm. E embora os filmes de Brahm sejam
excelentes na criação de um senso atmosférico, paradoxalmente a maior platitude
e menor atabalhoado visual envolvida nas cenas nos façam dirigir mais diretamente
ao cerne posto pela narrativa. O romance já havia sido adaptado igualmente em O
Pensionista (1927), um dos primeiros filmes a chamar a atenção da crítica
para Hitchcock.|Panoramic Prod. para Twentieth Century-Fox. 82 minutos.

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