Filme do Dia: Baile Perfumado (1996), Lírio Ferreira & Paulo Caldas

 


Baile Perfumado (Brasil, 1996). Direção: Lírio Ferreira & Paulo Caldas. Rot. Original: Paulo Caldas, Lírio Ferreira & Hilton Lacerda. Fotografia: Paulo Jacinto dos Reis. Música: Fred 04, Lúcio Maia, Paulo Rafael, Chico Science & Sérgio Siba Veloso. Montagem: Vânia Debs. Dir. de arte: Adão Pinheiro. Com: Duda Mamberti, Luiz Carlos Vaconcelos, Cláudio Mamberti, Aramis Trindade, Chico Diaz, Jofre Soares, Germano Haiut, Johnny Hooker, Giovanna Gold, Geninha de Rosa Borges.

Benjamin Abrahão (Duda Mamberti) é um mascate libanês que decide filmar Lampião (Vasconcelos) e seu bando, contando com o apoio do Coronel João Libório (Cláudio Mamberti) e, não sem certa dificuldade, consegue fazê-lo. Porém, o que parecia a parte mais difícil da empreitada, que seriam as filmagens, estavam longe de sê-lo. Além de não mais conseguir ter acesso ao bando, Abrahão não possui mais o apoio de Libório e suas divídas crescem, enquanto o filme que realizou é proibido pela censura do Estado Novo, após ter sido assistido pelos homens do Tenente Lindalvo Rosas (Trindade), que se encontra obcecado com a missão de matar o cangaceiro.

Revisitando a já extensa filmografia do cangaço com um aporte novo, o de observá-la em meio à mídia e outros elementos de modernidade a comungarem lado a lado com os mais tradicionais – algo trabalhado de forma quase didática  na cena em que Abrahão é surpreendido à saída do bar por um cortejo funébre em que o cadáver é carregado em sua rede, seguida por uma sessão de cinema – o filme incorpora, inclusive em sua conformação, essa pegada mais pop, sem abusar da mesma, sobretudo em um trecho próximo ao final que mais parece saído de um videoclipe. Pioneiro de um novo ciclo de produção cinematográfica em Pernambuco, ainda vigente quase um quarto de século após sua realização, graças a sua forte repercussão de público e crítica, faz uso massivo de ângulos rebuscados, momentos de fotografia maneirista, similares ao que a geração anterior, do cinema “pós-modernista” paulistano hava realizado com resultado que sem abdicar de uma narrativa com pretensões de empatia a um público mais amplo, ao mesmo tempo parece se encontrar muitas vezes a bem pouco da completa autoconsciência de sua artificialidade e encenação, o resultado final soando incômodo e talvez menos interessante que o menos pretensioso e de longe mais convencional Corisco & Dadá (1996), de Cariry. Como em boa parte do Cinema da Retomada, a figura do estrangeiro ganha protagonismo, provocando talvez a mediação possível que representa a própria distância aproximada dos realizadores do universo retratado. Joffre Soares, que morreria antes de seu lançamento (e também o da nova versão do filme de Lima Barreto, do mesmo ano) tem uma participação breve como Padre Cícero (já vivido por ele em uma produção de 1976) ao início. Na trilha, a forte cena musical pernambucana de sua época, encabeçada por Chico Science. Destaque para as cenas aéreas rasantes do São Francisco e para a forte presença das imagens filmadas pelo próprio Abrahão, algumas delas já encenadas no próprio filme, assim como um breve trecho de A Filha do Advogado. Riofilme. 93 minutos.

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