Filme do Dia: O Enfeitiçado: Vida e Obra de Lúcio Cardoso (1968), Luiz Carlos Lacerda

 


O Enfeitiçado: Vida e Obra de Lúcio Cardoso (Brasil, 1968). Direção Luiz Carlos Lacerda. Rot. Original Luiz Carlos Lacerda & Angelo Sant’Anna. Fotografia André Palluch. Montagem Júlio Heilbron.

Lúcio Cardoso analisado por Lacerda, de quem realizaria o longa Mãos Vazias, partindo de obra homônima. Fotos fixas são o predominante ao início do curta. Após vem os depoimentos. O do primeiro, não identificado, mas provavelmente Otávio de Faria, é solene e bastante formal. Afirmando não ter ficado impressionado à primeira vista, ao ser apresentado a Cardoso, autor de um livro de estreia aos dezoito anos, mas depois se tornaria amigo e cuja amizade “não conheço maior”.  Embora se estivesse ensaiando uma primeira alusão mais direta à homossexualidade observada “de dentro”, e não apenas como sensacionalismo ou pilhéria com o curta contemporâneo, Um Clássico, Dois em Casa, Nenhum Jogo Fora e boa parte da filmografia do realizador corteje o homoerotismo velada ou mais abertamente, provavelmente ainda seria uma mescla espúria se pensar a inserção do tema em curtas sobre o universo cultural brasileiro à época. Fica patente, no entanto, na fala do segundo depoente, Walmir Ayala, uma projeção na figura de pioneirismo de Cardoso como capaz de iluminar sua trajetória não apenas profissional, mas também pessoal. “Quando eu o conheci, eu estava fugindo. Fugindo de uma sociedade que me impunha padrões tradicionais. Fugindo de uma família. Fugindo de um meio que me dava uma mentira em troca de um ajustamento medíocre.” Próximo ao final assomam as ilustrações desenhadas por Lúcio Cardoso, impossibilitado de escrever após um AVC, nos idos da década. Há uma tentativa de emulação do estilo gótico do escritor, representado em seus romances e gravuras, nos planos repetidos de uma câmera avançando por um bosque deserto. Ou pelo quase onipresente tema musical melancólico de Chopin. E fica reservado a poucos instantes finais, a aparição do próprio artista, desenhando. Ele morreria no mesmo ano do lançamento deste curta. Ainda mais talhado ao protótipo do “curta cultural” produzido pelo INCE/INC, embora curiosamente não o seja, sensação talvez acentuada pela presença de colaboradores de peso nas produções dos referidos institutos, como Júlio Heilbron, dinâmico profissional a habitualmente assinar como diretor de fotografia ou mesmo direção, quando não as duas juntas. |Cinesul. 10 minutos e 54 segundos.

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