Filme do Dia: The Invisible Appears (1949), Nobuo Adachi

 


The Invisible Man Appears (Tômei Ningen Arawaru, EUA, 1949). Duireção Nobuo Adachi. Rot. Adaptado: Shinsei Adachi & Shigehiro Fukushima, a partir do conto de Akimitsu Takagi. Fotografia: Hideo Ishimoto. Música: Gôro Nishi. Montagem: Shigeo Nishida. Com: Chizuru Kitagawa, Takiko Mizunoe, Daijirô Natsukawa, Mitsusaburô Ramon, Ryûnosuke Tsukigata, Shôsaku Sugiyama, Kanji Koshiba, Kichijirô Ueda.

Em Kobi, as experiências do Dr. Nakazato (Tsukigata) levam a invisibilidade de animais. O próximo passo, ao qual se encontra cauteloso, será testá-la com humanos, o que ainda receia por conta de seus efeitos deletérios – transtornos de personalidade e a impossibilidade de retorno à situação anterior até que seja criado um antídoto. Nakazato é sequestrado pelo ardiloso Kawabe (Sugiyama), que faz uso dele para manipular o pretendente a sua filha e também cientista Kurokawa (Koshiba) a se tornar invisível e roubar o valioso colar que há muito tempo deseja. Ele o faz como passaporte para um pretenso antídoto, que mal sabe ser uma mentira inventada por Kawabe.

Há algumas tiradas francamente ingênuas nessa releitura da obra de Wells, a partir de uma adaptação de um derivativo seu, como é o caso de Machiko ir reencontrar o pai, portando em seu pescoço o colar que tem sido motivo de tanta ganância, e que havia sido justamente salvo por terem colocado uma versão falsificada em seu lugar. E, no geral, sua história parece um tanto confusa, ao abraçar o rocambolesco de seu original, ou assim ressaltá-lo no cinema. Tal, como no exemplo citado, tudo parece se encontrar a serviço de sua trama, de uma forma demasiado esquemática. Dito isso, o filme traz movimentos de câmera um tanto inusitados que, somados ao uso extensivo e precoce do zoom, acentuam uma visualidade por vezes bastante distinta do cinema clássico norte-americano, que provavelmente buscava copiar - ainda que o mundo ocidental tenha tido conhecimento do cinema japonês sobretudo a partir da década de 1950, o oposto não é verdade, como demonstra filmes de Ozu das décadas de 20 e 30 e essa produção, que busca soluções muito próximas, em alguns momentos, do filme de Whale, de 1933, referência inescapável e pioneira. E o mesmo pode ser dito dos bem resolvidos efeitos que traduzem a atuação da invisibilidade de seu personagem central, como é o caso do cigarro fumado, do qual apenas o vemos e não seu fumante ou de, em exemplo mais virtuoso,  uma moto que se movimenta sem motorista, passando pela alusão ao assento onde se encontrava sentado – também evocada em O Homem Invisível (2020). O trabalho de câmera, sugerindo a presença do homem invisível, outra recorrência em produções do tipo, aqui também é bastante explorada. E as lutas com antagonistas, relativamente também bem resolvidas, tendo em conta que ainda muito distantes das facilidades tecnológicas do século seguinte. Porém, a melhor cena vinculada a isso é a que Kurokawa tenta segurar a própria amada, amor que já sabe não correspondido, e vemos a aproximação da atriz para bem perto da câmera. Ou, posteriormente da irmã de  Kurokawa tentando fazê-lo abandonar o crime. Em alguns momentos, Kurokawa não apenas tem o dom da invisibilidade como o de se encontrar no lugar certo na hora certa, tal como a câmera deveria estar segundo Pudovkin prescrevera em sua teoria décadas antes. O que não é de todo estranho, já que o personagem é representado pela própria. É o caso de se encontrar nas proximidades do desmascaramento do vilão-mor. E ele próprio ataca-lo. A morte e reaparição do invisível, que segue a mesma fórmula de Dr. Jekyll and Mr. Hyde nesse aspecto, no caso do romance de Stevenson trazendo as feições humanas da besta em que se transformara, traz também uma evocação de um elemento quase sempre esquecido em filmes que abordam o tema: que para se manter invisível, o homem deve estar nu, trazendo uma dimensão erótica implícita que não passaria despercebida a gêneros como o cômico e erótico/pornográfico e que a versão de 2020 se blinda, bem ao sabor de seu tempo, com a invenção de roupa que propicia tal invisibilidade. Termina e se inicia com comentários grandiloquentes sobre a ciência. Daiei Studios. 82 minutos.

 

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