Filme do Dia: Bengasi (1942), Augusto Genina
Bengasi (Itália, 1942). Direção:
Augusto Genina. Rot. Original: Edoardo Anton, Ugo Betti, Alessandro Di Stefano
& Augusto Genina, a partir do argumento de Genina. Fotografia: Aldo Tonti.
Música: Antonio Veretti. Montagem: Fernando Tropea. Dir. de arte: Salvo D’Angelo
& Cesare Baietti. Cenografia: Camilo Paraviccini & Leopoldo Zampetti.
Figurinos: Anna Maria Feo. Com: Fosco Giachetti, Mária Tásnedi Fekete, Amedeo
Nazzari, Vivi Gioi, Guido Notari, Leo Garavaglia, Laura Redi, Fedele Gentile,
Amelia Bissi, Romolo Giordani, Pier Giorgio Herliczer.
Numa Bengasi sob bombardeio britânico,
o Capitão Enrico Berti (Giachetti) raramente consegue encontrar sua esposa,
Carla (Fekete) e o filho pequeno Sandrino (Herliczer). A jovem Giuliana (Gioi)
passa a se interessar por Filippo (Nazzari), oficial italiano infiltrado no
exército britânico. A mãe (Bissi) de Giovanni (Gentile) reencontra o filho,
porém cego. Menos sorte possui o pai, Piero (Giordani) que no ínterim acaba
sendo visitado por cruéis soldados britânicos que se divertem matando seus
pássaros domésticos, mesmo fim que lhe seguirá, para o terror da mulher que recém
retornara com o filho. Carla, inicialmente propensa a permanecer a todo custo
em Bengasi, quando tenta fugir dos bombardeios com o filho, é vítima de um
bombardeio que mata a criança ao virar o caminhão no qual se encontrava. Ela
visita o marido no hospital militar pouco depois, mas não tem coragem de avisar
sobre a morte da criança. Em meio a um ataque aéreo Giuliana testemunha a
humilhação pública sofrida pela condição de dupla identidade de Filippo. Enrico
visita a casa e descobre a verdade sobre o filho.
O pretenso realismo de Genina soa
bastante convencionalmente melodramático quando comparado a de seu
contemporâneo Rossellini (Um Piloto Retorna). Trabalhando no mesmo terreno que aquele, o do filme de guerra, e
ainda mais no impacto que a guerra provoca nas pessoas, aqui mais enfaticamente
do que no filme de Rossellini, já que centrado mais na perspectiva da população
civil, incluindo militares fora do trabalho,
porém com resultados bem mais codificados pela tradição de gênero assim
como uma maior aproximação com uma mensagem patriótica-ufana. Com relação ao
último quesito, nada mais distinto de Rossellini do que seu final triunfante,
no qual a população de Bengasi, juntamente com os italianos, comemoram com
bandeiras italianas (e também nazistas!) a vitória sobre as forças britânicas.
Nessa requintada produção, com realismo cenográfico, incluindo a incorporação
dos figurantes em cena, de fazer inveja a média hollywoodiana, acompanha-se a
trajetória, alegrias e, sobretudo, vicissitudes, de um grupo de personagens,
quase numa antecipação dos filmes de múltiplos enredos de Altman décadas após.
Porém, ao contrário do tom distanciado com que o último observa seus
personagens, algo também presente no realismo de Rossellini, aqui não se escusa
em se fazer uso de tiradas de impiedoso melodrama, como é o caso da mãe que
reencontra o filho cego pela luta na frente de guerra, e retorna a casa apenas
para descobrir o marido morto, vítima de abomináveis injúrias por parte dos
soldados britânicos, numa vilanização do inimigo longe de presente também na
trilogia que Rossellini efetivou durante os anos finais do fascismo. Apesar da
diversidade de subtramas, algumas delas surgindo e principalmente desaparecendo
muito abruptamente, como é o caso do
episódio da mãe em busca do filho, a história que ganha maior foco e tempo por
parte da narrativa é mesmo o do casal que perde o filho. Ou seja, é a partir
das relações familiares, basicamente apagada das referências dos protagonistas
dos filmes de Rossellini, que o filme se ergue onde, seguindo um padrão
italiano bastante difundido, observa-se mais os italianos enquanto vitimizados
pelas consequências da guerra que ataques e vitórias bélicas infligidas a seus
opositores, como era o caso de boa parte da produção cinematográfica
contemporânea, incluindo a norte-americana e a japonesa. Às mulheres, cabe um
papel bem mais limitado e subserviente a seu papel como esposas e mães do que
os homens, algo que pode ser percebido na velha mãe que sequer se dignou dar um
nome, quase como uma representação atemporal e abstrata da maternidade, que
encontra o filho cego e o marido morto, sendo que do mesmo, de presença mais
breve em tela, sabe-se chamar Piero e conhece-se alguns dos hábitos domésticos.
Conta com dois dos mais requisitados ícones masculinos dos anos fascistas,
Giachetti e Nazzari. Film Bassoli para Cine Tirrenia. 90 minutos.
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