Filme do Dia: Cidade da Perdição (1952), Luigi Zampa
Cidade da Perdição (Processo alla Città (Itália, 1952). Direção: Luigi Zampa.
Rot. Original: Suso Cecchi D’Amico, Diego Fabbri, Ettore Giannini, Turi Vasile
& Luigi Zampa, sob o argumento de Ettore Giannini & Francesco Rosi.
Fotografia: Enzo Serafin. Música: Enzo Masetti. Montagem: Eraldo Da Roma.
Cenografia: Ugo Bloettler. Figurinos: Maria De Matteis. Com: Amedeo Nazzari,
Silvana Pampanini, Paolo Stoppa, Dante Maggio, Franco Interlenghi, Irène
Galter, Gualtiero Tumiati, Tina Pica.
Nápoles, meados do século XIX. O
assassinato de um casal, cujos corpos são encontrados em locais distintos,
atiça suspeitos de um crime que diz respeito à Camorra, organização criminosa local.
As investigações envolvem boa parte da sociedade local e são levadas a cabo
pelo diligente juiz Spicacci (Nazzari), com a cobertura do delegado Perrone
(Stoppa). As investigações induzem a suspeição e morte de um jovem inocente, o
que leva à crença de que a investigação deve se tornar ainda mais rigorosa e
abrangente.
É notável o modo dinâmico com que
Zampa lida com temas, estilos e gêneros distintos. Ao mesmo tempo que o filme se embebe de
elementos típicos do gênero investigativo não se escusa de apontar para
uma crítica da realidade social
corrupta, algo pouco comum numa produção de época. Seu estilo visual é
profundamente influenciado pelo clássico Cidadão Kane (1941), de Welles, como pode ser percebida em especial a seqüência no
restaurante com um grande grupo de suspeitos, algo que se estende para o seu próprio tom investigativo. O uso de elementos do filme de investigação quase
como pretexto para um comentário moral sobre a sociedade italiana, englobando
inclusive a da época em que o filme foi produzido, antecipa toda uma
filmografia política nacional de nomes como Francesco Rosi, sobretudo seu As Mãos Sobre a Cidade (1963), e não por acaso um dos autores do argumento
dessa produção. Ainda que o fato de ser ambientado em outro momento histórico e
a presença de astros como Nazzari sugiram um menor rigor no tratamento do tema,
toda a narrativa é apresentada de forma exemplarmente distanciada, apontando
inclusive para outros elementos típicos de um cinema moderno, como seu final
inconclusivo. E os indicativos históricos são certamente menos definidores do que
o elemento da corrupção coletiva, quase como que demonstrando a sua
continuidade aos dias do filme. Nazzari, aliás, é um dos trunfos do filme, com
sua elegante interpretação do sofisticado juiz com sede de justiça em
contraposição ao irrequieto, violento e involuntariamente histriônico policial
vivido por Stoppa. Seu prólogo, com duas
crianças correndo pela praia, antecipa uma hipótese de ser um filme próximo do
ciclo neorrealista, ainda que sua aproximação do universo político talvez seja
mais amadurecido do que a maior parte dos filmes vinculados ao célebre
movimento. Film Costellazione Produzione. 103 minutos.
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