Filme do Dia: Turistas (2014), Ruben Östlund
Turistas
(Turist, Suécia, 2014). Direção e Rot. Original: Ruben Östlund. Fotografia:
Fredrik Wenzel. Música: Ola Flottum. Montagem: Jacob Secher Schulsinger. Dir.
de arte: Josefin Asberg. Figurinos: Pia Aleborg. Com: Johannes Kuhnke, Lisa
Loven Kongsli, Clara Wettergren, Vincent Wettergren, Kristofer Hivju, Fanni
Metelius, Malin Dahl, Brady Corbet.
Tomas (Kuhnke) viaja com sua família, a esposa
Ebba (Kongsli) e os filhos Vera (Clara Wettergren) e Harry (Vincent Wettergren)
para uma estação de esqui de férias. Enquanto comem em um restaurante,
testemunham a ação do que parece ser uma avalanche que irá atingir o hotel. A
partir da fuga de Tomas sem se preocupar com ela e as filhas, Ebba passa a
pressiona-lo para que assuma o que fez. Ele resiste. A tensão extrapola o casal
no momento em que eles a compartilham com outros hóspedes do hotel (Dahl e
Corbet) e, sobretudo, quando um casal, Mats e Fanni (Hivju e Metelius
respectivamente) é convidado para jantar com eles. Diante da apresentação de um
vídeo filmado pelo celular ao grupo, Tomas parece se render interiormente a ter
feito o que fez. Sua reação imediata, no entanto, é agressiva. A situação
provoca uma crise também no casal mais jovem, após Fanni acusar Mats de agir da
mesma forma caso ocorresse com eles o episódio. As crianças ficam cada dia mais
tensas, imaginando a iminente separação dos pais. Mats passeia com Tomas,
enquanto Ebba prefere esquiar sozinha. Tomas finalmente desaba diante da
família, tendo uma crise nervosa. Após uma situação nova de tensão (encenada?)
diante dos filhos, o casal parece começar um esboço no sentido de uma
reaproximação. Quando abandonam a estação de inverno, um motorista de ônibus
completamente inoperante os põe em risco.
Provavelmente o que mais chama a atenção nessa
ficção que possui – sobretudo ao início – uma possibilidade de ser observado
como documentário, dada a maneira objetiva e de fora com que observa a chegada
da família ao local é o modo bastante excêntrico com o qual congrega drama e
comédia, as vezes inclusive numa mesma cena, num desafiador exercício de
ambiguidade, como quando à tensão do casal principal se sobrepõe a comicidade
sinalizada pela situação de indefinição em relação a o que dizer por parte do
casal mais jovem. Filmado de maneira elegante e pontuado pelas inserções musicais
de trechos de As Quatro Estações de
Vivaldi (trechos similares aos presentes no experimental mexicano La Formula Secreta), assim como pela demarcação dos dias vividos na estação e
também pelo branco que ocasionalmente toma conta de toda a imagem, que suscita
tanto uma evocação imediata ao olho que gradualmente se acostuma à imensidão
branca quanto, no plano abstrato, comenta sobre a própria sensação de
sufocamento de seus personagens, divididos entre o que se espera que cumpram de
seus papéis sociais e seus instintos mais profundos – mais adiante, a esposa
repetirá a mesma ação do marido, partindo antecipadamente diante de outra
situação de risco. Há uma camada de distanciamento reflexivo que parece se
interpor entre as ações vividas (e sentidas) pelos personagens e o que
observamos em cena, algo similar talvez a presente na obra de um Michael Haneke
e é a tensão, movida em grande parte por um senso de estranhamento em relação
ao que se assiste, de forma a quase flertar com o absurdo surrealista – através
do choque entre situações banais que rapidamente demonstram não serem
exatamente o que eram – que marca o filme do início ao final, quando os
passageiros (tais como pacientes de um forçoso encontro consigo mesmos)
resolvem abandonar o ônibus que partira da estação, à exceção de um, para
caminharem a procura de algo que os volte ao próprio eixo, evocativo do final
de O Discreto Charme da Burguesia.
Merece alguma atenção possivelmente o modo que o filme pretende chamar a
atenção para uma pretensa virtuosidade de si próprio. Coproduction
Office/Film i Väst/Plattform Produktion/Rhône-Alpes Cinéma. 118 minutos.
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