Filme do Dia: Luz de Verão (1943), Jean Grémillon


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Michèle (Robinson) chega a um hotel sem hóspedes a certo tempo e algo distante de qualquer cidade, nas montanhas da Provença. Quando se encontrava caminhando para lá ganha uma carona de Patrice (Bernard). Ele fica encantado com a beleza de Michèle, mas Cri-Cri (Renaud), a dona do hotel, observa todos os gestos do amante. Julien (Marchal) chega no hotel e lhe enviam para o mesmo quarto de Michèle, doze, acreditando ser ele o homem que ela tanto esperava. Quando ele entra é beijado por Michèle. Tempos depois chega ao hotel o estabanado artista (pintor, ator?) inseguro Roland (Brasseur), embriagado como sempre e chorando a derrota de uma estreia mal sucedida de peça. Cri-Cri é possessiva com Patrice e esse deseja ardentemente Michèle. Não apenas ele, mas também o jovem trabalhador Julien. Numa festa a fantasia o quarteto se encontra presente, assim como Cri-Cri. Um acidente de carro nas mãos do embriagado Roland faz com que sejam acolhidos pelos trabalhadores. Julien lidera o pedido de socorro ao médico. Roland já é falecido. Patrice, de exímia pontaria, ameaça atirar contra Julien, quando esse se arrisca para salvar vinte e cinco pessoas que ficaram presas em um teleférico, inclusive o médico. É detido pelo Senhor Louis (Lévesque), mas agora ameça atirar indiscriminadamente contra a pequena multidão que o cerca, caindo do despenhadeiro. Michèle parte com Julien no dia seguinte.
Atmosférico e bem planejado ao início, essa produção dirigida por um dos realizadores escarnecidos pela Nouvelle Vague começa a dar mostras de uma teatralidade que afasta do cinema mais vitalista de um Clouzot (O Salário do Medo) quando, por exemplo, Cri-Cri e Patrice evocam seu passado amoroso. Idem para quando Michèle troca pensamentos de amor em voz alta ao lado de Julien. Porém entre um momento e outro se assemelha a que toda a eternidade e mais um anjo parecem ter transcorrido.  A teatralidade ganha todos os poros mesmo é logo após a chegada triunfal  do Roland de Brasseur, com seus arroubos românticos de artista desesperado e exclusivamente voltado para si. Dentro da perspectiva de gêneros, de sete décadas e meia após, observar o desespero humilhante de Michèle e, sobretudo,  Cri-Cri em relação a saber se seus homens realmente a amam ou não e, mesmo sabendo que não, persistirem e voarem para eles aos primeiros gritos desses (caso de Michèle) é algo desolador.  Sem a mesma criatividade de um Cocteau, fica-se apenas com as platitudes do que se acredita ser a “alma de um artista”, e a chatice de seu infantil e ególatra auto-condescendente encarnação sob a figura de Roland. Quando se percebe logo que tudo gira em torno de um triângulo apaixonado pela mesma mulher, a empreitada do filme se torna mais fútil e suas pretensões de comicidade soam ainda mais vãs. Por baixo de tanto preciosismo visual, daqueles que transforma as águas de uma fonte suja de uma festa animada como que em pérolas estreladas ou rostos colados sonhando com um amor assoma o cadáver putrefato de um parnasianismo vazio e competente de pretensões talvez universais. Ao final, os que só trabalham se confundem com os que vivem em pleno ócio e futilidade, e, sob a luz de verão que se refere o título e que acolhera Michèle ao início, um  de cada se somará na promessa de amor final, em algum lugar outro – provavelmente Paris. Films André Paulvé. 110 minutos.

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