Filme do Dia: Uma Aventura na Noite (1946), Joseph L. Mankiewicz


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Uma Aventura na Noite (Somewhere in the Night, EUA, 1946). Direção: Joseph L. Mankiewicz. Rot.Adaptado: Howard Dimsdale & Joseph L. Mankiewicz, baseado no conto The Lonely Journey de Marvin Borowsky. Fotografia: Norbert Brodine. Música: David Buttolph & Emil Newman. Montagem: James B. Clark. Dir. de arte: James Basevi &   Maurice Ransford. Cenografia: Thomas Little. Figurinos: Key Nelson. Com: John Hodiak, Nancy Guild, Richard Conte, Lloyd Nolan, Josephine Hutchinson, Fritz Kortner, Whit Bissell, Houseley Stevenson, Margo Woods.
            George W. Taylor (Hodiak) recupera-se dos ferimentos de guerra que lhe provocaram amnésia. Ele retorna para os EUA, sem ter a menor lembrança sobre o passado. A única indicação que tem é uma mensagem de um suposto amigo seu Larry Calvart. Porém a investigação que faz sobre Calvart lhe leva a crer que ele é um perigoso elemento do submundo do crime. Perseguido pelos asseclas de Anzelmo (Kortner), refugia-se no camarim da artista de uma boate, Christy Smith (Guild), que se apaixona por ele quando ele conta sua história. Surrado pelos homens de Anzelmo, Taylor posteriormente descobre mais peças do quebra-cabeças, através do tenente da polícia Donald Kendall (Nolan), amigo de Christy e de Mel Phillips (Conte). Ao que tudo indica, ele participara de uma ação que envolvia a quantia de dois milhões de doláres e que resultou num assassinato nas docas três anos antes. Taylor consegue se aproximar de uma das testemunhas, Michael Conroy (Stevenson), internado em um hospital psiquiátrico, mas chega tarde demais, só conseguindo escutar as últimas palavras da vítima. Percebe que ele não é Taylor, mas sim Calvart e que Taylor é o verdadeiro criminoso. Com Christy consegue recuperar a mala com o dinheiro, que ainda se encontra no mesmo local e enviá-la ao Tenente Kendall. Numa reunião em que todos os envolvidos se encontram na casa de Anzelmo, quase morre mas é salvo por Phillips que o leva, juntamente com Christy, para comemorar na boate onde ela trabalha. Lá Phillips se revela como Taylor. Antes de assassiná-lo porém é persuadido por Calvart a reconquistar o dinheiro e morre vítima das balas de Kendall.
Iniciando com um plano solitário que prenuncia muito da estética noir que ganhará fortes contornos posteriormente, curiosamente o prólogo do filme se aproxima mais do realismo dos dramas de veteranos de guerra que retornam ao lar tais quais Os Melhores Anos de Nossas Vidas (1945) ou Espíritos Indômitos (1950), o que se manifestará enganoso a partir do momento que Taylor/Calvart iniciará a busca de sua identidade. A partir daí o universo sombrio de ruas úmidas, femmes fatales, misoginia e de suspeita sobre tudo o que há sobre as aparências conquista a narrativa, que se caracteriza pelo tom labiríntico e persecutório comum aos filmes do gênero, tais quais o pioneiro Relíquia Macabra (1941)  – e a seqüência em que todos se encontram reunidos, por ganâncias diversas, na casa de Anzelmo, demonstra sua dívida para com o filme de Huston. Merecem destaque aqui os habitualmente engenhosos diálogos de Mankiewicz, assim como a atmosfera que beira o gótico, auxiliada pela fotografia expressionista e que chega aos limites do terror, como quando a filha de Conroy testemunha uma tentativa de atropelamento do protagonista. Ou ainda quando Anzelmo o recebe pela primeira vez em sua casa e conta sobre seu passado glorioso no mundo do crime embora, ao mesmo tempo, não destituído de auto-ironia: em um certo momento uma prostituta companheira do crime compara Anzelmo a Bela Lugosi. Lee Strasberg, criador do famoso “método” de interpretação do Actor’s Studio que ganharia notoriedade na década de 50,  participou da adaptação do texto. 20th Century-Fox. 108 minutos.


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