Filme do Dia: Sem Evidências (2013), Atom Egoyan
Sem Evidências (Devil’s Knot, EUA, 2013). Direção: Atom Egoyan. Rot.
Adaptado: Paul Harris Boardman & Scott Derickson, a partir do romance The Devil’s Knot: The True Story of the West
Memphis Three. Fotografia:
Paul Sarossy. Música: Mychael Danna. Montagem: Susan Shipton. Dir. de arte:
Phillip Barker & Thomas Minton. Cenografia: Melinda Sanders.
Figurinos: Kari Perkins. Com: Colin Firth, Reese Whiterspoon, Alessandro
Nivola, James Hamrick, Seth Meriwheter, Kristopher Higgins, Amy Ryan, Robert
Baker, Collette Wolfe, Rex Linn.
Memphis, idos dos anos 90. Três
crianças saem para passear de bicicleta e não retornam as suas casas. Seus
corpos são encontrados posteriormente, nus e amarrados pelos cordões dos
sapatos. Uma quarta criança, que aparentemente sobreviveu ao massacre, comenta
que foram vítimas de um ritual de magia negra cometido por três jovens. Um
advogado, Ron Lax (Firth), não acredita na tese que imputa culpa aos jovens,
sobretudo Damien Echols (Hamrick). Pam Hobbs (Whiterspoon), mãe de um dos
garotos, é impedida pelo companheiro, Terry (Nivola), de falar com Lax.
Posteriormente, durante o julgamento que se encaminha para a condenação dos
jovens e a pena de morte a Damien, Pam demonstra incerteza e compartilha suas
dúvidas com Lax, entregando-lhe o canivete do qual seu filho nunca se separava
e que foi encontrado entre os pertences do marido no sótão.
Revisitando o tema de uma pequena
comunidade abalada por crimes brutais que já havia sido o motivo de um de seus
filmes mais conhecidos, O Doce Amanhã,
infelizmente Egoyan não conquista o mesmo resultado daquele. A dúvida e uma
demanda intensa para que surja uma verdade que consiga purgar os ânimos
profundamente feridos dos que sofreram com as mortes de seus entes queridos e
seu efeito corrosivo sobre o cimento social aqui não chegam a ser observados de
forma mais detida como naquele – com a relativa exceção da família Hobbs, a
quem o filme se detém mais intensamente. Mal costurado entre a ênfase no drama
dessa família em particular e o restante, o que inicialmente parecia antecipar
um surpreendente bom uso da criação atmosférica de suspense se transforma em um
aborrecido filme de julgamento que apresenta de forma um tanto esquemática o
conservadorismo hipócrita de uma comunidade que, a exemplo de O Doce Amanhã, prefere infligir o
flagelo da culpa do massacre a tipos sociais menos socialmente ajustados ao
ambiente mediano da mesma. Com as lacunas ressaltadas ao final, no entanto,
ainda que o filme corajosamente fuja de um fecho conclusivo para muitas das
perguntas em aberto, incluindo quem de fato matou as crianças, como seria de se
esperar em uma produção do tipo, desconstrói em parte o que ficou sugerido de
forma ambígua (e talvez mesmo, algo perversa) em relação aos próprios pais das
crianças. Whiterspoon consegue uma interpretação notável e é um dos poucos
elementos notáveis numa orquestra que parece desafinar ao tentar conjugar o
relativo distanciamento emocional habitualmente empregado pelo realizador com
recursos mais convencionais, como sua insistente e aborrecida trilha musical.
Algo que talvez deva muito ao fato de se tratar da primeira produção
norte-americana do realizador canadense, de certa forma intensificando um
processo que já havia sido descortinado em produções anteriores do cineasta
como Where the Truth Lies. Worldview
Ent. para Image Ent. 114 minutos.
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